Reindustrialização brasileira: governo aposta em pacote de medidas para incentivar o consumo, mas setor ressalta a necessidade de se reduzir também custos na base

Reindustrialização – O Governo Federal lançou na última quinta-feira (17) um pacote de medidas para estimular a economia e o consumo neste ano eleitoral. Pela estimativa do governo, o conjunto de ações deve injetar mais de R$ 150 bilhões na economia brasileira.

Entre as diversas medidas, está a liberação de saque de até R$ 1 mil do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e a antecipação do 13º salário para aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). As medidas incluem ainda a autorização para beneficiários do Auxílio Brasil e do BPC (Benefício de Prestação Continuada) contratarem crédito consignado com desconto em folha.

O pacote batizado de “Programa Renda e Oportunidade” é visto como uma tentativa de reanimar a economia e o consumo, num momento de desaceleração. O próprio Ministério da Economia reduziu a previsão de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) para 1,5% em 2022. Valor que apesar de baixo, é visto como “muito otimista” pelo mercado, que tem uma previsão inferior.

Redução do IPI: imposto sobre móveis cai para 3,75%

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A novidade já havia sido divulgada pelo governo no mês passado, junto ao anúncio da redução linear em 25% das alíquotas do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). Com o IPI sobre móveis, incluindo também painéis de madeira e laminados, portanto, baixando para 3,75% (antes era 5%). Leia mais sobre o assunto clicando aqui.

A iniciativa foi definida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, como “um marco na reindustrialização do País”, que, segundo ele, “sofre há décadas com tributação alta”. Todos os setores tributados com o imposto foram contemplados, inclusive o de bebidas e armas, tendo como única exceção o de cigarros. A redução já está valendo.

“Redução de custo é sempre bom! Para o lojista, o IPI é custo. Portanto, essa redução pode beneficiar o preço dos produtos na ponta e, consequentemente, favorecer o volume de vendas”, analisa José Lopes Aquino, presidente do Sima (Sindicato das Indústrias de Móveis de Arapongas – PR). Ele diz ver com otimismo essa primeira ação concreta do governo na direção de fortalecer a indústria brasileira.

“Já há muito o setor industrial clama por ações que desonerem o ‘custo tributário da folha salarial’ e também pede uma ‘reforma tributária’ que deixe de cobrar imposto ‘em cascata’ na cadeia de produção”, salienta Aquino. “Se houver evolução concreta nessa direção, poderemos, então, vislumbrar a possibilidade de nosso país conseguir verdadeiramente a sua reindustrialização e, consequentemente, elevar o nível de empregos. Trazendo, assim, mais ‘divisas’ com um maior volume de exportação de produtos industrializados.”

De olho na taxa de juros

O IPI é um imposto calculado diretamente sobre o preço de venda final dos produtos industrializados. Nesse sentido, a redução torna esses itens mais acessíveis ao consumidor. “Avaliamos a mudança positivamente, pois incentiva o consumo, principalmente de bens duráveis, como móveis. Mesmo que os custos de produção sigam em alta no primeiro semestre deste ano por causa da escassez de matérias-primas, como aconteceu em 2021, é possível que a redução do IPI eleve a produção de móveis, pois vai incentivar o consumo na ponta”, opina Vinicius Benini, presidente do Sindmóveis (Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves – RS).

Ainda assim, cabe comentar, porém, que tanto a liberação do saque do FGTS quanto a redução do IPI, podem gerar um resultado oposto ao objetivo das medidas. Isto, caso não se olhe também para os fatores atrelados ao incrementos dos custos de produção. “Nesse sentido, caso o crescimento dos preços dos insumos não sejam observados e contidos, podemos ter um aumento ainda maior da Taxa Selic. Ou seja, da taxa básica da economia, que está atualmente em 10,75% ao ano e com previsão de fechar 2022 na casa dos 12,25%”, ressalta Benini.

Isso seria contraditório em relação ao pacote de medidas. Pois, alta dos juros gera justamente um movimento contrário, tal qual a contenção da atividade produtiva e da demanda. O que acaba penalizando a indústria de um modo geral, incluindo o segmento moveleiro.

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Índices de Preço ao Produtor

Por falar na indústria, os preços no setor industrial geral no Brasil iniciaram o ano de 2022 com um aumento de 1,18% em janeiro em comparação com dezembro de 2021. Na passagem de novembro para dezembro do ano passado, a variação já havia sido negativa em 0,08%.

No índice que registra os últimos 12 meses, a taxa foi de 25,51%. Em dezembro, havia sido de 28,45%. Os dados são do Índice de Preços ao Produtor, o IPP, medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O IPP mede a variação dos preços de produtos na “porta da fábrica”, isto é, sem impostos e frete, de 24 atividades das indústrias extrativas e da transformação. Dessas, 18 apresentaram alta. Os quatro setores com maiores variações, em termos absolutos, foram indústrias extrativas (9,54%), bebidas (4,31%), madeira (3,14%) e papel e celulose (2,85%).

De acordo com o analista da pesquisa, Felipe Câmara, o resultado de janeiro tem ligação com o preço do petróleo e do minério de ferro, ambos em alta no mercado internacional. “Houve também transmissão disseminada de maiores custos dos insumos ao longo das cadeias produtivas, que se encontram desarticuladas por paralisações na produção, escassez e encarecimento de matérias-primas”, explica.

Reindustrialização brasileira: ‘o buraco é mais embaixo’

No caso da indústria brasileira, o setor possui na sua composição de custos, ainda, “a ineficiência da infraestrutura e logística do País”, é o que pontua Benini, presidente do Sindmóveis. “Quanto à logística, temos no País uma defasagem da infraestrutura de transporte, com ineficiência da conexão entre os diferentes modais e grande concentração do transporte no setor rodoviário, cujas estradas apresentam problemas. Todos esses fatores precisam ser superados para que sejam criadas condições adequadas para a chamada reindustrialização”, completa.

Ele ainda aponta o aumento da conta de energia, que encareceu em razão do risco de apagão, como outro ponto de influência negativa para a indústria brasileira. “Logo, é urgente que haja investimento na geração e distribuição de energia.”

Sanções comerciais e interrupções produtivas na Ucrânia e Rússia podem piorar a cadeia de abastecimento global

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Os índices de preços ao redor do mundo, aliás, já vinham sendo pressionados pela retomada da atividade econômica no último ano. O que, em razão das sanções internacionais e interrupções produtivas na Ucrânia e na Rússia, conforme aponta o relatório “Perspectivas 2022”, publicado pela Federasul (Federação das Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul), deverá trazer ainda mais efeitos diretos na oferta global, em especial de commodities agrícolas e energéticas. Impulsionando, assim, os preços internacionais e nacionais, principalmente dos alimentos e combustíveis.

O aumento nos índices de inflação pressiona os Bancos Centrais e autoridades monetárias para maior atenção às taxas de juros. Retomando-às, dessa forma, para patamares superiores aos registrados nos últimos anos de expansão da oferta monetária.

Induzidas principalmente pelas economias europeias e asiáticas, portanto, o relatório indica que as taxas de crescimento ao redor do mundo devem reduzir no ano de 2022 quando comparadas com o ano anterior. Consequência de taxas de juros mais altas e índices inflacionários pressionados.

Reformas são prioridade no eixo de trabalho do setor moveleiro

Num período de retomada de nossas vidas e da atividade econômica, a busca por soluções começa por uma cadeia produtiva colaborativa e em sincronia, que trabalhe em união de propósitos e ações. Com as associações e sindicatos de classe, portanto, exercendo um papel fundamental nesse sentido.

O diálogo e a negociação direta com o Governo Federal, seus ministérios e demais órgãos da esfera pública ao redor do Brasil, colabora para posicionar o setor moveleiro num lugar de destaque na economia e na indústria brasileira, além de oferecer recursos para o enfrentamento de crises como a de abastecimento, logística, a luta inflacionária e fiscal, além de outros antigos obstáculos e demais entraves causados pela pandemia para a rotina produtiva e a saúde financeira das empresas.

Nesse sentido, dividido em seis tópicos, o atual plano de trabalho da ABIMÓVEL (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário), entidade que representa o setor nacionalmente, para a gestão 2022-2024, sob liderança de Irineu Munhoz, tem como principais objetivos:

  • Implementar o projeto de ampliação da normatização dos produtos em toda a cadeia produtiva; ampliar as exportações das indústrias de móveis e da sua imagem no mercado externo;
  • Incentivar a melhoria da competitividade, a capacitação e a inclusão digital dos pequenos negócios;
  • Fortalecer a relação entre os elos da cadeia produtiva e a articulação entre fornecedores no mercado interno;
  • Consolidar e propor novos projetos estruturantes no mercado interno e externo, com foco na sustentabilidade, design integrado à indústria e a integração produtiva;
  • Avançar nas negociações com o Congresso Nacional e equipe econômica, no que se refere às reformas:  administrativa, tributária, melhoria do ambiente de negócios, entre outras.

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