“Às vezes parecemos estar parados, mas isso não significa que não estejamos em movimento.” A frase que ilustra muito bem, literal e figurativamente, o movimento do planeta e o processo pelo qual ele atravessa atualmente, ditou o enredo da conferência de imprensa para a apresentação do novo conceito desenvolvido pela organização do Salone del Mobile.Milano para este ano. Após 18 meses de adiamentos e cancelamentos, o maior evento moveleiro e de design do mundo promete reabrir suas portas em setembro de 2021. Mas com uma dinâmica bastante diferente (e ainda um tanto enigmática, convenhamos): o “supersalone”.
Pensado para ser uma edição especial, ou seja, um evento único realizado apenas neste ano, o supersalone surge como uma possível resposta à necessidade de retomada das atividades da feira; dos players envolvidos na organização da Semana de Design de Milão; bem como da própria indústria e economia italiana num período ainda bastante restritivo em escala global e sob a pressão de um curto prazo para sua preparação.
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Música, gastronomia e um novo layout
Programado para ocorrer, como é de praxe, concomitante à Semana de Design, entre os dias 05 e 10 de setembro de 2021, então, o novo conceito conta com cinco colaboradores internacionais trabalhando ao lado do curador Stefano Boeri — notável arquiteto italiano. Com formato reduzido, tanto em metragem (esta edição não ocupará todos os pavilhões do Rho Fiera Milano) quanto em participação de empresas e público, neste ano o evento foca não só na exposição de produtos e na realização de negócios, mas também no entretenimento e no envolvimento do público, contando com muita comida, palestras, shows de música ao vivo e mais.
Com tal direcionamento, parece evidente que o principal motivo para uma exibição menor, com curadoria e numa pegada menos comercial, é que o interesse e possibilidade de participação das empresas, bem como dos compradores internacionais, têm sido baixo em comparação com o Salone del Mobile.Milano nos moldes que até então conhecíamos. Argumento que ganhou força especialmente após a resignação de Claudio Luti da presidência do iSaloni no último mês de abril, e que nos parece bastante justificável frente aos tantos desafios ainda enfrentados neste período.
Mix de públicos e novo formato de exposição marcam o supersalone
Com a expectativa de menos visitantes e expositores, portanto, os organizadores conceberam o supersalone como uma forma de envolver os visitantes com um projeto único e, segundo eles, alinhado com os tempos em que vivemos. Com isso, a edição especial também estará aberta todos os dias para o público em geral. Anteriormente, o público não profissional só tinha acesso aos dois últimos dias do evento. E não é só isso, além de conhecerem em primeira mão o que há de mais inovador em matéria de design e soluções para o viver, antes mesmo de chegar às lojas, o público também poderá adquirir as peças lá apresentadas direto dos fabricantes. Uma mudança significativa no escopo do evento.
Mas, afinal, como será realizada a exibição dos produtos diante de todas as questões de mobilidade, distanciamento e do formato reduzido? Bem, é aí que tudo fica mais intrigante. O formato proposto por Boeri e seus cinco colaboradores segue a ideia de uma grande biblioteca de design. Que celebrará a atenção e o cuidado com os espaços contemporâneos, pensados para valorizar e harmonizar os novos produtos e criações trazidos pelas empresas nos últimos 18 meses.
O layout consistirá em longos conjuntos paralelos, projetados para categorias específicas de produtos. Permitindo, assim, que as empresas expositoras criem suas próprias identidades e apresentem seus produtos em paredes verticais e, em alguns casos, em superfícies horizontais, ambas modulares. Como num museu.
Esta configuração de exposição “fluida e dinâmica”, de acordo com seus idealizadores, visa permitir que os visitantes naveguem livremente dentro de um enorme arquivo nacional e internacional de criatividade, excelência e know how em design. O objetivo, aliás, é que com isso, eles consigam entregar aos profissionais e consumidores uma experiência de compra envolvente e única.
E você, animado para o supersalone?
Apesar da boa vontade e otimismo da organização do iSaloni em reunificar o setor e retomar os negócios, bem como em preservar Milão como a capital do design e berço de tendências no mundo, com essa edição especial devendo ser o primeiro grande evento físico na área a reabrir suas portas, muitos questionamentos ainda pairam no ar.
O novo formato irá decolar? Qual o impacto do mix de públicos nos negócios qualificados? O que uma edição como esta significa para o futuro do evento e da Semana de Design de Milão como um todo? E, muito importante, quem poderá — ou mesmo irá querer — viajar à Itália ainda em 2021?
Com tantas dúvidas levantadas, fica mais fácil compreender a decisão de feiras como a Movelpar, no Brasil, em bater o martelo na realização do evento apenas em 2023 e em uma nova localidade, a capital paulista, que viabiliza mais facilidade no acesso, mobilidade e acomodação — questões se tornaram ainda mais essenciais quando pensamos no futuro das feiras de negócios.
Seja qual forem as respostas para estas e outras perguntas, contudo, estaremos na torcida para que o maior evento do setor moveleiro no mundo retome suas atividades com força e assertividade. Abrindo, assim, caminho para as próximas feiras e rodadas de negócios ao redor do globo.