Tendências sustentáveis no morar. Indústria está preparada?

As tendências sustentáveis do mobiliário são complementares à busca de soluções para economia e uso racional da água e energia elétrica. Não é à toa que a sustentabilidade é um fator cada vez mais decisivo na hora de comprar, decorar e produzir.

Em uma edição do Demanda em Foco no Setor Moveleiro, em setembro do ano passado, a Plataforma Setor Moveleiro divulgou a percepção do consumidor em relação à sustentabilidade no setor. De acordo com a pesquisa, conduzida pelo IEMI – Inteligência de Mercado, 61% dos entrevistados buscavam saber se a peça era ou não produzida com matéria-prima sustentável na hora da compra.

Da mesma forma, a tendência se confirmou na pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em relação ao comportamento do consumidor. O último estudo Retratos da Sociedade: hábitos sustentáveis e consumo consciente divulgado revelou que 74% dos consumidores adotam hábitos sustentáveis. E 31% deles estariam dispostos a pagar mais por um produto sustentável.

O que torna um móvel sustentável?

Madeira sustentável e certificada e o algodão orgânico estão entre as indicações do arquiteto e urbanista João Lobato, sócio da GrowT, uma startup focada em projetos inteligentes para residências, com sede em São Paulo.

Material presente em diversos itens da produção de móveis, a madeira pode ser reutilizada (de demolição) e certificada, uma ótima forma de contribuir para o meio ambiente na hora de decorar a casa, reconhece. “O benefício vai além da sustentabilidade, já que estamos falando de materiais com ótima qualidade e durabilidade”, afirma o arquiteto.

O algodão orgânico para revestimento de cadeiras e estofados também é opção. “É produzido sem agrotóxico, adubos químicos ou qualquer outra substância tóxica”, comenta ele. O uso de metais e tintas que não agridam o meio ambiente e nem sejam nocivos à saúde das pessoas também deve estar no radar.

Setor moveleiro atento às tendências sustentáveis

Embora o estudo da CNI mostre que dois terços dos consumidores ouvidos indique dificuldade para encontrar produtos sustentáveis nas lojas, a indústria moveleira está atenta a esse processo.

“A sustentabilidade é, de fato, uma das maiores marcas de nosso setor, que faz parte do Pacto Global da Organização das Nações Unidas, seguindo seu Guia de Sustentabilidade”, conta a diretora-executiva da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), Cândida Cervieri.

Ela cita o uso de madeira certificada, de gestão ou de manejo sustentável, como obrigatoriedade, assim como o não uso de substâncias não restritas, como é o caso de metais pesados.

Indústria verde na prática (e no DNA)

A fabricante JB Bechara, de Tanabi, no interior de São Paulo, tem a sustentabilidade permeando todo o processo da empresa, de acordo com o CEO, Rodrigo Bechara. “Quando tomamos a decisão de tornar esse o caminho da indústria, trabalhamos o conceito de ESG [sigla em inglês que significa ambiente, sustentabilidade e governança] na totalidade”, conta.

Antes de lançar seu primeiro produto totalmente sustentável, o que aconteceu no final do ano passado, missão, visão e valores da empresa centenária foram revisados e alterados e a diversidade e inclusão tomaram conta. A indústria e os colaboradores criaram e ingressaram em projetos sociais e ambientais.

Imagem do produto Impact0, um conjunto de mesa e bancos para a cozinha, com a indicação do uso de madeira de reflorestamento, tintas e vernizes de baixa toxicidade e metal reutilizado.
Antes de lançar o produto, no final do ano passado, empresa passou por transformações internas e aplicou conceito ESG. Foto: reprodução JB Bechara

“Estamos reflorestando as margens do principal rio que corta a cidade de Tanabi, temos o maior programa de doação de sangue e de coleta de óleo de cozinha usado na cidade”, exemplifica.

Tudo isso para passar longe do greenwashing, termo que define uma espécie de “maquiagem verde” para dar a entender que existem ações sustentáveis nas empresas. E isso pode acontecer em diversos segmentos. O trabalho na JB Bechara vem acontecendo há três anos, com uma consultoria ambiental.

No final do mês de junho, na feira Movinter, a JB Bechara vai apresentar a linha sustentável que nasceu com o primeiro produto, já no mercado: um conjunto de mesa e bancos para a cozinha. “Provocamos os stakeholders e conseguimos insumos verdadeiramente sustentáveis. Até a embalagem pode ser reaproveitada, sem gerar resíduos”, explica o CEO.

Tendências sustentáveis em toda a cadeia produtiva

Fornecedora da JB Bechara com uma tinta à base d’água para o lançamento, a Sayerlack também mostra essa preocupação com a cadeia. “Como fornecedora de tintas e vernizes, nosso objetivo maior é desenvolver soluções que também prolonguem a vida útil da madeira, matéria-prima sustentável e renovável”, fala o diretor geral da Sayerlack, Marcelo Cenacchi.

Para isso, a empresa vem buscando, ainda, alternativas de tintas, vernizes e processos de secagem à base d’água e sem solvente. E também vem apostando no ESG no dia a dia do negócio.

Já o Grupo Eucatex é a primeira empresa brasileira do seu setor a receber a certificação ISO 9001. Seu manejo florestal tem reconhecimento internacional por meio da obtenção da certificação FSC® (Forest Stewardship Council) de Manejo Florestal desde 1996.

A companhia vem investindo também em energia renovável. Por meio de um contrato de compra de energia elétrica de longo prazo (PPA), firmado com o Grupo Comerc Energia, terá 50% da sua demanda de energia gerada pela matriz solar.

 

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