Um olhar sobre o varejo brasileiro em 2021

Que a dinâmica do consumo (e da vida como um todo) virou de ponta-cabeça no último ano, todo mundo já está cansado de saber. Entre altos e baixos, porém, as medidas de proteção à produção, ao consumo e ao emprego, com um foco especial ao Auxílio Emergencial, que teve início em abril, suplementando a renda de milhões de famílias durante parte do ano passado, certamente influenciaram positivamente o varejo e consequentemente toda a cadeia moveleira.

Natural, então, que com o fim das parcelas (eram seis) e a posterior suspensão do benefício no início de 2021, o consumo no varejo, que experimentou um superaquecimento no terceiro trimestre do ano passado, esteja agora se estabilizando. Os novos anúncios do Governo Federal, no entanto, não só em relação ao novo auxílio, como também medidas relacionadas ao emprego e renda, crédito, apoio às micro e pequenas empresas, redução de tarifa de energia elétrica e o próprio programa de vacinação, poderão abrir novos caminhos para o consumo a partir de abril, ao impactar, inclusive, nos preços (questão que também tratamos mais abaixo).

No artigo “Indústria moveleira: Produção de móveis cresce 7,4% na comparação janeiro 2020-2021”, nós analisamos esse cenário de crescimento na indústria, afirmando que só poderíamos entender a real conjuntura ao observarmos o comportamento do varejo durante estes e os próximos meses. Para desbravar um pouco mais do movimento atual no comércio varejista, então, trazemos abaixo duas das mais recentes pesquisas com dados relacionados ao varejo nos meses de janeiro (Pesquisa Mensal de Comércio – IBGE) e fevereiro (Índice Cielo do Varejo Ampliado). Vamos a elas!

Pesquisa Mensal do Comércio – Janeiro/2021

De acordo com a PMC-IBGE, o volume de vendas do comércio varejista no país ficou estável em janeiro de 2021 na comparação com dezembro de 2020, variando em -0,2%. Na comparação com janeiro do ano passado, o resultado é de  -0,3%. Esta foi primeira taxa negativa após sete meses consecutivos de índices positivos. Já o indicador acumulado nos últimos 12 meses ficou em 1%.

Com a diminuição do aporte de recursos do Auxílio Emergencial, a partir de outubro, a capacidade de consumo das famílias diminuiu. Isso, com impacto direto no comércio, levando os indicadores à estabilidade em novembro (-0,1%), uma queda em dezembro (-6,2%) e, agora, outra estabilidade em janeiro (-0,2%).

Das oito atividades investigadas, cinco tiveram taxas negativas frente a dezembro, influenciando o resultado de janeiro. Entre elas, infelizmente, a categoria “móveis e eletrodomésticos”, que caiu  5,9% no período. Na comparação de janeiro deste ano com janeiro de 2020, a categoria teve redução de 5,4% no volume de vendas. Considerando apenas móveis nesta base de comparação, a diminuição foi de 2,2% (eletrodomésticos tiveram queda de 6,9%).

Índice Cielo do Varejo Ampliado – Fevereiro/2021

Agora, segundo o ICVA, que também acompanha mensalmente a evolução do setor, as vendas no varejo em fevereiro recuaram 17,1%, descontada a inflação, em comparação com o mesmo mês de 2020. Em termos nominais, que espelham a receita de vendas observadas pelo varejista, o ICVA apresentou queda de 9,9%. Depois da recuperação observada até outubro, este é o quarto mês seguido de queda na pesquisa, voltando ao patamar de agosto.

De acordo com o indicador, a queda nas vendas seria menor se desconsiderados os efeitos de calendário. Isso porque, como aponta a Cielo em comunicado, 2020 foi um ano bissexto, com o mês de fevereiro contando com um sábado a mais de comércio. Sem tais efeitos, o índice do mês apresentou queda de 13,5%, também descontada a inflação. Em termos nominais, com os ajustes de calendário, o ICVA apresentou, então, retração de 5,9%.

Os setores que apresentaram maiores desacelerações foram Turismo e Transporte, Postos de Gasolina e, também nesta pesquisa, Móveis, Eletro e Departamentos. Se nas primeiras duas categorias citadas, as razões para diminuição do consumo são óbvias frente às restrições à mobilidade e os aumentos abusivos no valor do combustível no Brasil; em relação aos móveis, uma justificativa plausível se daria em relação ao atendimento quase que total da demanda explosiva do ano passado. Os números da construção civil, com obras e reformas ainda em andamento, no entanto, continuam demonstrando cenários oportunos para o mobiliário em 2021.

Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo

Outro ponto importante de se observar se dá em relação ao reajuste no preço dos móveis. Questão que vêm se estendendo por toda a cadeia e, consequentemente, chegaria ao consumidor final. De acordo, mais uma vez, com o IBGE, o varejo está conseguindo repassar os reajustes de preços da cadeia na ponta. O divulgado pelo instituto mostra que no acumulado de janeiro e fevereiro, a alta no preço dos móveis alcançou 2,61% ante 1,11% do IPCA geral. Uma diferença de 135 pontos percentuais.

A maior elevação do IPCA de móveis ocorreu em Curitiba, 3,76%, e a menor em Salvador, 0,37%. Entre as dez regiões pesquisadas, porém, todas apresentaram alta no preço de móveis neste período.

A crise no abastecimento, com a escassez e as altas que chegam a até 200% no preço de determinadas matérias-primas e insumos para a fabricação de móveis, causando, assim, impacto significativo na porta da fábrica e consequente aumento no valor do móvel pronto, será tema de outro conteúdo na Plataforma Setor Moveleiro. Continue nos acompanhando!

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