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A importância da normalização no setor mobiliário

A importância da normalização no setor mobiliário

No setor moveleiro, a normalização ajuda a garantir qualidade, segurança e conformidade. As normas técnicas, nesse caso, estabelecem requisitos e diretrizes que padronizam processos, materiais e produtos. O escopo de uma norma define sua abrangência, determinando quais aspectos são regulados e para quais tipos de produtos ou processos se aplica. Entender o conceito permite que as empresas sigam as boas práticas e assegurem a confiabilidade de seus produtos.

Na publicação anterior, fizemos algumas considerações sobre o conceito de prescrições em uma norma, destacando que não devem ser vistas apenas como uma questão gramatical, pois há exemplos em que prescrições mal formuladas em normalização podem gerar confusão, ao invés de ajudarem na especificação de um item. 

Nesta edição, faremos algumas considerações sobre o escopo de uma norma, um elemento essencial que deve estar presente no início das normas, estabelecendo de forma concisa e clara o assunto, os aspectos da sua abrangência e os limites da sua aplicabilidade. 

O escopo é considerado uma prescrição primária de uma norma e deve utilizar expressões específicas como “este documento especifica…; estabelece…; fornece diretrizes para…; define os termos…”. 

Nesse sentido, as indicações sobre o campo de aplicação devem ser dadas como: “este documento se aplica a….”.

A importância da normalização no setor mobiliário

Na versão antiga de Norma de Estofados – Sofás, o escopo, então denominado objetivo, estabelece os “métodos para determinação de estabilidade, resistência e durabilidade, independentemente de seu desenho, materiais utilizados e processo de fabricação”. 

Menciona-se, também, os diversos produtos não atendidos por esta normalização, como o caso de cadeiras de aproximação, um apelido sugerido por um arquiteto e designer de produtos conceituais visando a ideia de deixar suas criações mais cobiçadas para uso dentro dos ambientes. 

Então, o uso de apelidos conceituais ou nomes comerciais devem ser evitados na norma, por representarem classes muito específicas de mercado.

No que diz respeito ao conteúdo desta versão, nota-se que, além da descrição dos procedimentos para a determinação do desempenho quanto à estabilidade, resistência e durabilidade, diferentes elementos estão presentes no conteúdo da normalização na forma de requisitos, extrapolando os limites de aplicabilidade determinados pelo escopo e assumindo responsabilidades que não cabem aos próprios fabricantes de sofás.

As especificações de materiais são extremamente rigorosas, pois, além de não permitir tolerâncias em determinados casos, dificulta comparações. 

Por exemplo, existe uma afirmação mencionando que “outros materiais utilizados na estrutura de sofá estofado devem apresentar níveis de desempenho iguais ou superiores aos da madeira nos ensaios relacionados nesta Norma”, ou seja, especifica-se o desempenho da madeira e não do produto sofás, sendo que as especificações como densidade ou dureza Janka, são difíceis de serem correlacionadas com outros materiais, como metais.

A importância da documentação no setor mobiliário

Continuando com as especificações de materiais, na subseção de estofamentos, há o conceito também difícil de ser definido, que é o conceito de maciez, muito subjetivo, que depende da percepção individual de cada pessoa. 

O que uma pessoa considera macio pode ser diferente para outra, já que a sensação de maciez pode envolver diferentes fatores como a textura, a pressão e a temperatura, que são interpretados pelo sistema sensorial de cada indivíduo de maneira única.

E, ao final, mencionar que os ensaios de componentes são executados para avaliar o desempenho de componentes dos sofás isoladamente, mas não são suficientes para avaliação de sua conformidade quando aplicados ao produto final significa dizer que os ensaios em componentes individuais têm pouca utilidade no contexto da norma. 

Portanto, questiona-se: por que realizá-los?

A importância da normalização no setor mobiliário

O aspecto dimensional de um sofá é também carregado de forte elemento subjetivo, dependendo das necessidades, preferências e características individuais do usuário. 

Vários fatores influenciam essa escolha, como o espaço disponível, o conforto pessoal, o estilo de vida, o design e a estética. Logo, a decisão sobre o tamanho é pessoal e varia conforme o contexto, não devendo interferir no desempenho do produto final.

A revisão menciona apenas a padronização da largura do assento conforme especificações técnico-mecânicas dos ensaios laboratoriais. 

Se o número de componentes assentos não for evidente, ou seja, quando a quantidade de almofadas ou a posição de costura do revestimento não definir claramente a quantidade de assentos, deve-se dividir o comprimento total do componente assento por 600 milímetros e arredondar para o número inteiro mais próximo, com o objetivo de determinar a quantidade de componentes assentos a serem ensaiados.

Em relação à amostragem, a norma determina que se deve aguardar por um período de quatro semanas após a produção para que o sofá atinja plenas condições de resistência. 

No entanto, a definição de cada etapa do processo de fabricação, inclusive quando o controle de qualidade libera o produto para a venda é uma decisão dos fabricantes. 

Além disso, a necessidade de reavaliação do produto a cada seis meses, conforme citada, não é uma atribuição de uma norma de produtos e sim de outras instâncias de aplicação da norma como a de Certificação de Produtos.

A importância da documentação no setor mobiliário

Enfim, a norma considera vários elementos representativos do estado da arte do produto ou do setor no período, destacando as melhores formas de definir os requisitos de qualidade. 

Exigiu-se alta eficácia em certos aspectos para compensar a ausência de outros, devido à eventual falta de equipamentos de laboratório necessários para certos testes.

Com a mão de obra técnica qualificada, novos equipamentos e materiais, além dos estilos contemporâneos de gestão, as normas devem contribuir para o aumento da qualidade e competitividade do setor, jamais constituindo-se um obstáculo. Isso foi destacado durante o processo de revisão desta norma.

Na próxima publicação, trataremos dos aspectos técnicos que representam o desempenho dos sofás.

A importância da normalização no setor mobiliário

Escreveu esse artigo

Jorge M. Kawasaki, que é engenheiro e mestre em engenharia de materiais.

Tem experiência em desenvolvimento de novos produtos em vários segmentos industriais, incluindo autopeças (velas de ignição), aeronáutica (mobiliário da aviação executiva), florestal (certificação FSC na Amazônia Oriental) e madeira e mobiliário (Instituto Senai de Tecnologia), entre outros.

Atualmente, é colaborador da Abimóvel (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário), responsável pelo desenvolvimento do Projeto de Normalização de Móveis.

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