Crise no abastecimento de matéria-prima: Implicações nas relações comerciais na cadeia moveleira

Não tem como negar: O tão sonhado superaquecimento no consumo de móveis tem sido apagado por um verdadeiro pesadelo na cadeia moveleira. Sim, continuamos falando sobre a crise no abastecimento de matéria-prima para a indústria.

De um lado, a oferta limitada de suprimentos reprime a produção – com máquinas e mão de obra disponíveis para rodar, mas sem material para trabalhar ou embalagem para entregar. Estremecendo, assim, as relações entre varejistas e industriais, que não conseguem ou demoram a atender ao ritmo da demanda.

De outro, o aumento no valor dos insumos – por razões já discutidas em nosso artigo de ontem -, aumenta o custo produtivo e eleva o valor do móvel pronto. Gerando, dessa forma, um desconforto que pode vir a ser gota d’água entre muitas relações comerciais.

E, sim, a gente sabe que a precificação é uma ciência bastante complicada. Mas, mais do que nunca, precisamos aprendê-la e aplicá-la com sabedoria. Afinal, em meio a essa tempestade, quem bobear com custos trabalhará mais e ganhará quase nada. Isso, se não sair no prejuízo. “A verdade é que, sobretudo num momento como este – de ainda mais trabalho e exaustão do que o comum – trabalhar no vermelho não pode ser uma opção. Mais importante do que o volume de clientes fidelizados, portanto, é a qualidade da sua carteira”, fala Carlos Bessa, CEO da Plataforma Setor Moveleiro.

Crise no abastecimento de matéria-prima revela gargalos na cadeia moveleira

Mas diante de tudo isso que foi exposto por aqui neste e no último artigo – com a questão do câmbio e a retomada da economia chinesa pressionando o mercado de matérias-primas mundial, entre outros pontos importantes – seriam esses, de fato, os únicos impulsionadores dessa crise dentro do setor moveleiro? Acreditamos que não só!

Como falamos no texto de ontem, “essa falta generalizada de suprimentos escancara alguns dos gargalos mais limitantes na cadeia madeira e móvel no Brasil”. E quais seriam eles, afinal? Acreditamos que a dependência de produtos internacionais e a limitação da capacidade produtiva.

Dependência de produtos internacionais e limitação da capacidade produtiva

Primeiro, enquanto formos dependentes de produtos importados – seja chinês, norte-americano ou europeu -, estaremos vulneráveis à imprevisibilidade e às condições de outros mercados. Isso, sem contar com a questão logística – tão dificultada pela nossa localização geográfica. “A autossuficiência de recursos produtivos nos traria não só mais acessibilidade, como um ganho enorme em competitividade no setor e na economia local. Praticando-se preços que fazem sentido para o mercado doméstico e gerando estoque. Estabilizando, assim, toda a cadeia”, enfatiza Carlos Bessa.

Segundo, quase todas as empresas fornecedoras de suprimentos para a produção de móveis no Brasil, opera hoje com a capacidade 100% tomada. Não há espaço, alternativa ou possibilidade para aumento do volume. O que provavelmente seja o maior dos obstáculos enfrentados hoje, inclusive onerando a produção.

Crise no abastecimento de matéria-prima: Uma palavra franca para os fornecedores

E o que ambas as questões têm em comum? Não adianta investir na ponta, se não houver uma fundação sólida e estruturada. “Fala-se tanto em um crescimento sustentado. Mas se esquece de construir a base. Não haverá crescimento de demanda que se sustente sem a ampliação das possibilidades de oferta”, fala Bessa.

Dessa maneira, com a regularização da procura já surgindo no horizonte – infelizmente observando-se uma onda crescente de cancelamento de pedidos vindos do varejo para a indústria de móveis -, o momento de pensar no amanhã é, definitivamente, o hoje.

“Fornecedores que se adiantam aos problemas e investem no crescimento como um processo de dentro para fora, não só tendem a sair mais vitoriosos de momentos de crise, como serão a escolha certa de empresários em qualquer situação. Criando uma relação não só de oferta-demanda, mas de segurança nos negócios. Questão cada vez mais valorizada”, finaliza o CEO da Plataforma Setor Moveleiro.

E o que os fabricantes podem fazer neste momento?

A pergunta foi tema de um debate bastante aquecido em nosso grupo Setor Moveleiro no WhatsApp. Contribuindo mais uma vez com a discussão, Laércio Comar, CEO da ADDE – Indicadores de apoio à gestão, gravou um vídeo especialmente para os membros do grupo. Conversando com os industriais sobre a relação comercial entre os elos do setor em tempo de crise de abastecimento de matéria-prima. Ele aproveita, também, para levantar algumas possibilidades para a manutenção dos negócios neste momento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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