A economia circular é considerada um modelo inovador e sustentável que busca transformar a maneira como a sociedade consome e produz itens, promovendo a reutilização, a reciclagem e a redução de resíduos. No setor moveleiro, essa abordagem oferece uma oportunidade de integrar práticas sustentáveis em todas as etapas da produção, desde a escolha de materiais até o design e a logística reversa. Na matéria abaixo, você vai saber mais sobre o conceito, bem como sobre as principais práticas para o setor de móveis. Boa leitura!
A economia mundial tem passado por transformações significativas à medida que as preocupações com a sustentabilidade e com o esgotamento dos recursos naturais se intensificam.
Nesse cenário, a economia circular é considerada uma alternativa viável e necessária ao modelo tradicional de economia linear, que se baseia na extração, produção, consumo e descarte.
Em vez de seguir um ciclo insustentável, a economia circular propõe um sistema regenerativo, onde os produtos e materiais são mantidos em uso pelo maior tempo possível, minimizando o desperdício e o impacto ambiental.
A economia circular no mercado de móveis
No setor moveleiro, a adoção da economia circular é, além de uma tendência, uma necessidade para enfrentar os desafios ambientais e atender às demandas dos consumidores por práticas mais responsáveis.
Com a pressão crescente para reduzir a pegada de carbono e gerir os resíduos de forma mais eficiente, as empresas do setor estão reavaliando seus processos de fabricação, desde a escolha de matérias-primas até o design e a logística reversa.
Esse movimento busca, portanto, mais do que a sustentabilidade ambiental, já que atinge, também, a criação de valor econômico através da inovação e da eficiência.
Nesta matéria, que irá lhe apresentar o conceito de economia circular, bem como as principais práticas para integrá-lo ao setor moveleiro, você vai conferir:
- O que é economia circular e como se diferencia da economia linear?
- Quais são os benefícios da economia circular para o setor moveleiro?
- Como o setor moveleiro pode implementar práticas de economia circular?
- Quais são os principais desafios para implementar a economia circular?
- Como os consumidores podem influenciar a transição para a economia circular?
O que é economia circular e como se diferencia da economia linear?
A economia circular pode ser definida como um sistema econômico pensado para regenerar a si próprio, promovendo o uso eficiente e contínuo dos recursos.
Nilson Violato, que é secretário da Governança Ninho Tech do Ecossistema de Inovação de Arapongas, afirma que a base da economia circular é reduzir desperdícios, reciclar os resíduos e reutilizar a matéria-prima.
“O conceito está pautado no pilar do ciclo de vida do produto. Nesse sentido, toda a concepção do produto, seu processo produtivo e seu descarte final deve obedecer a um ciclo que garanta o mínimo de impacto ao meio ambiente”, explica.
Prolongamento do ciclo de vida dos produtos
Em linhas gerais, diferente do modelo linear tradicional, que opera na lógica de “extrair, produzir, consumir e descartar”, a economia circular visa a prolongar o ciclo de vida dos produtos, através de práticas como reciclagem, reutilização, reparo e remanufatura.
Esse modelo, por sua vez, busca criar um ciclo fechado, no qual os resíduos são minimizados e os materiais são continuamente reintegrados ao processo produtivo, reduzindo a dependência de novos recursos naturais.
Maximização da eficiência dos recursos
A consultora industrial Claudia Lens complementa a definição, ao pontuar que a economia circular fomenta métodos mais sustentáveis em relação à produção, consumo e descarte de bens e recursos.
“O conceito tem como objetivo maximizar a eficiência dos recursos, reduzir o desperdício, reutilizar materiais e prolongar o ciclo de vida dos produtos.”
Essa abordagem se diferencia fundamentalmente da economia linear ao eliminar o conceito de desperdício. Na economia circular, tudo é visto como um recurso potencialmente valioso, incluindo os subprodutos e resíduos gerados durante a produção.
“Na economia linear, os recursos naturais são extraídos, transformados em produtos e, após o uso, são descartados como resíduos. Nela, a produção em massa é o objetivo central e muitos produtos têm uma vida útil curta, sendo descartados após pouco tempo de uso, causando acúmulo de resíduos, que, muitas vezes, são descartados em aterros sanitários, incinerados ou poluem o meio ambiente. Enquanto isso, a economia circular desenvolve produtos considerando sua durabilidade, possibilidade de reparo e capacidade de desmontagem, para promover a reciclagem, a reutilização e a regeneração, o que minimiza o consumo de recursos naturais, reduz a geração de resíduos e diminui os impactos ambientais”, explica Lens.
O design de produtos na economia circular
O design dos produtos, por exemplo, é repensado para facilitar a desmontagem e a recuperação de materiais, incentivando a inovação e a criação de novos modelos de negócios baseados em serviços, como aluguel e compartilhamento, ao invés da simples venda de produtos.
“Quando o produto passa a ser escalável, a geração de impacto pelo resíduo industrial produzido e os descartes de componentes, como embalagens, efluentes e outros, são de grandeza tão significativa que origina e sustenta a indústria da reciclagem”, pontua Violato.
Quais são os benefícios da economia circular para o setor moveleiro?
A adoção da economia circular no setor moveleiro oferece uma série de vantagens para as empresas, tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental.
Segundo a consultora industrial, a economia circular proporciona diversos benefícios para o setor moveleiro no que se refere às oportunidades para redução de custos, inovação, eficiência nos recursos e melhoria da reputação.
“É importante salientar, ainda, que ao adotar critérios de economia circular, a empresa colabora para a disseminação do conceito, oportunizando cada vez mais a conscientização das pessoas.”
Vantagens econômicas
Em termos econômicos, a implementação de práticas circulares pode resultar em considerável redução de custos.
Ao reutilizar materiais e incorporar processos de reciclagem, as empresas podem diminuir a necessidade de adquirir novas matérias-primas, muitas vezes caras e de fornecimento incerto.
Além disso, a economia circular incentiva a inovação, o que leva ao desenvolvimento de produtos mais duráveis e modulares, que podem ser facilmente reparados ou atualizados, prolongando sua vida útil e aumentando seu valor no mercado.
Vantagens ambientais
Do ponto de vista ambiental, os benefícios são igualmente significativos. A redução no consumo de recursos naturais e na geração de resíduos contribui diretamente para a diminuição da pegada ecológica do setor moveleiro.
“O principal benefício da economia circular está exatamente em você pensar num processo de concepção e industrialização que possa realizar as bases da sustentabilidade”, afirma o secretário da Governança Ninho Tech do Ecossistema de Inovação de Arapongas.
Processos de produção mais eficientes e o uso de materiais reciclados ou biodegradáveis ajudam a mitigar os impactos ambientais, promovendo uma gestão mais sustentável dos recursos.
Ademais, ao criar produtos que podem ser facilmente desmontados e reciclados no fim de sua vida útil, as empresas do setor moveleiro ajudam a fechar o ciclo de produção, evitando que os produtos acabem em aterros sanitários e contribuindo para a conservação dos ecossistemas.
“Conceber uma linha de fabricação que incorpore os elementos do reduzir, reciclar e reutilizar é garantir à humanidade uma ação de respeito à vida. Considero que o benefício é no universo intangível, já que esse processo requer um pensar fora da caixa. O resultado é que passa a ser aferido e não a lucratividade, tão somente”, argumenta Violato.
Como o setor moveleiro pode implementar práticas de economia circular?
Para implementar práticas de economia circular, o setor moveleiro pode começar pela reavaliação dos materiais utilizados na fabricação dos produtos.
Porém, conforme destaca o secretário da Governança Ninho Tech do Ecossistema de Inovação de Arapongas, para se implementar o conceito em uma cadeia de valor como o da movelaria, é imperativa uma ação colaborativa em prol da sustentabilidade.
“O designer, o fornecedor de matéria-prima, o fabricante, o varejo e o consumidor final devem compartilhar de uma consciência sustentável.”
Uso de matérias-primas
No que se refere ao uso das matérias-primas, a indicação é optar por materiais recicláveis ou sustentáveis, como madeiras certificadas e plásticos reciclados, é um primeiro passo crucial.
Design de móveis
Além disso, o design dos móveis pode ser repensado para facilitar a desmontagem e a recuperação dos componentes ao final de sua vida útil.
Adotar um design modular, por exemplo, permite que peças sejam substituídas ou reparadas individualmente, prolongando a vida útil dos produtos e reduzindo a necessidade de produção de novos itens.
Logística reversa
Lens destaca, ainda, que outra estratégia importante é a implementação de sistemas de logística reversa, nos quais os produtos antigos são recolhidos pelos fabricantes para serem reciclados ou remanufaturados.
Empresas podem criar programas de devolução, oferecendo incentivos aos clientes para que retornem móveis usados. Esses itens podem ser desmontados e seus materiais reintegrados ao processo produtivo.
“É possível, ainda, implementar a economia circular em vários momentos, como por exemplo: no desenvolvimento de produtos que levem em consideração o ciclo de vida e que apoiam a reutilização e a reciclagem e os reparos, seja no produto como um todo ou em partes. Nesse contexto, é possível também oferecer serviços que incentivam a manutenção e a durabilidade dos produtos”, pontua a consultora industrial.
Colaborações com outras empresas
Ademais, a colaboração com outras empresas e organizações para desenvolver tecnologias de reciclagem e processos de fabricação mais eficientes pode acelerar a transição para a economia circular.
A parceria com startups e instituições de pesquisa também pode trazer inovações que facilitem a adoção dessas práticas no setor moveleiro, promovendo uma cultura de sustentabilidade e inovação.
“Não adianta reduzir elementos poluentes e processos de fabricação que gerem excessos de resíduos, se o varejo e o consumidor final não aceitarem a reciclagem e a reutilização de componentes. Não adianta resolver a rede de pontos de reciclagem, quando uma sociedade continua a jogar nos leitos dos rios e dos vales os móveis descartados. Esse é um estado de consciência voltado ao bem da vida e da humanidade em geral”, destaca o secretário.
Quais são os principais desafios para implementar a economia circular?
A implementação da economia circular no setor moveleiro enfrenta vários desafios significativos.
Mudanças culturais
Um dos principais obstáculos, nesse caso, conforme destaca Violato, consiste na mudança de mentalidade necessária tanto por parte dos fabricantes quanto dos consumidores.
Tradicionalmente, a indústria moveleira tem operado com base em um modelo linear, e a transição para uma abordagem circular requer um novo conjunto de valores e práticas.
Os fabricantes precisam adotar novos métodos de design e produção, que podem envolver custos iniciais elevados e a necessidade de investimentos em novas tecnologias e processos.
Ao mesmo tempo, os consumidores devem ser educados sobre os benefícios dos produtos circulares e incentivados a adotar hábitos de consumo mais sustentáveis.
“A educação ambiental, a cultura da sustentabilidade e a escolha de viver essas práticas devem atingir um estágio de amadurecimento onde os resultados sejam compartilhados e incorporados por todos”, argumenta o secretário.
Infraestrutura para a economia circular
Outro desafio importante é a infraestrutura necessária para suportar a economia circular. Isso inclui a criação de sistemas eficientes de coleta e reciclagem, bem como a formação de parcerias entre diferentes partes interessadas na cadeia de valor.
“Ainda temos pouca cultura de implementação de conceitos como a economia circular. Acredito que os maiores desafios estão na conscientização das pessoas e na viabilidade de produção, considerando o acesso a toda cadeia”, explica Lens.
“É importante que esse debate tome corpo e faça parte do planejamento e do pensar para o futuro sustentável da indústria e do setor moveleiro. A primeira barreira a ser quebrada, nesse caso, é a de que precisamos pensar fortemente nesse assunto”, continua.
A logística reversa, por exemplo, requer uma rede bem organizada para recolher produtos usados, transportá-los para instalações de reciclagem ou remanufatura e reintegrar os materiais recuperados ao processo produtivo.
Normas e regulamentações
Além disso, a falta de normas e regulamentações claras pode dificultar a padronização e a implementação de práticas circulares.
“No geral, nossas barreiras maiores são culturais e só serão vencidas quando o conjunto dos órgãos de poder – público, privado, sociedade e escolas – se voltarem para uma educação do ser humano integral. Estamos rumando para isso, mas ainda temos muito chão para andar”, destaca Violato.
Como os consumidores podem influenciar a transição para a economia circular?
De acordo com o secretário, os consumidores desempenham um papel importante na transição para a economia circular, influenciando diretamente as práticas das empresas através de suas escolhas e comportamentos de compra.
Ao priorizar produtos que são sustentáveis, recicláveis e de longa duração, os consumidores enviam um sinal claro ao mercado sobre a importância da sustentabilidade.
Essa demanda crescente por produtos ambientalmente responsáveis pode incentivar os fabricantes a adotar práticas de economia circular para atender às expectativas dos clientes.
“A partir do momento em que se tem a consciência de buscar por produtos que sejam menos descartáveis, ou que sejam mais adequados ao uso, ou que, ainda, sejam flexíveis, já existe o pensar circular”, argumenta Lens.
Acesso à informação
Ademais, consumidores informados podem pressionar as empresas a serem mais transparentes sobre seus processos de produção e materiais utilizados, o que pode promover uma cultura de responsabilidade e inovação no setor moveleiro.
Participação dos clientes
Outra maneira pela qual os consumidores podem influenciar essa transição é através da participação ativa em programas de devolução e reciclagem.
Ao devolver móveis antigos para reciclagem ou remanufatura, os consumidores ajudam a fechar o ciclo de vida dos produtos, reduzindo a necessidade de novos recursos e minimizando o desperdício.
Apoio
Os clientes podem, ainda, apoiar empresas que oferecem serviços de reparo e atualização de móveis, prolongando a vida útil dos produtos e contribuindo para a economia circular.
Além disso, consumidores engajados podem compartilhar informações e educar outras pessoas sobre a importância da economia circular, ampliando o impacto positivo de suas ações e ajudando a construir uma comunidade mais consciente e sustentável.
“Nesse cenário, cabe ao poder público equalizar seu orçamento para que a sobretaxa de impostos não recaia como peso na precificação dos produtos”, finaliza Violato.