Novas configurações de trabalho: como a indústria moveleira pode lucrar com a mudança nos escritórios

Novas configurações de trabalho: como a indústria moveleira pode lucrar com a mudança nos escritórios

A transformação dos ambientes de trabalho, acelerada pela pandemia e consolidada nos anos seguintes, vem redefinindo os espaços corporativos. Hoje, empresas de todos os portes discutem como oferecer conforto, funcionalidade e flexibilidade aos seus colaboradores. Nesse contexto, ganham força as novas configurações de trabalho, que substituem o modelo tradicional por layouts mais dinâmicos, com estações compartilhadas, móveis modulares e soluções ergonômicas. É nesse cenário que o setor moveleiro encontra terreno fértil para inovação e lucro. Ao mesmo tempo, cresce a preocupação com o bem-estar, o que impacta diretamente a escolha de materiais, formas e funcionalidades dos móveis corporativos.

A demanda não se limita às grandes corporações. Pequenas empresas, coworkings e até profissionais autônomos que atuam em home office buscam alternativas eficientes para montar seus espaços de forma inteligente. Frente a esse novo comportamento de consumo, o setor moveleiro tem a chance de reposicionar seu portfólio e diversificar canais de venda, apostando em tecnologia, conforto e design inteligente. Contudo, é preciso cautela para não cair em modismos passageiros. Como alerta Jamaci Messias Damasceno, Diretor do Programa Expansão Corporativa da AMAP, “o desafio está em conciliar com cuidado o que é tendência com o que é apenas modismo.” Confira quais temas esta matéria aborda:

  • Quais mudanças definem as novas configurações de trabalho?
  • Como essas transformações impactam a indústria moveleira?
  • Quais os diferenciais competitivos mais valorizados hoje?
  • Por que personalização e ergonomia ganharam protagonismo atualmente?
  • Afinal, como lucrar e se adaptar sem aumentar o custo de produção?

Escritórios híbridos mudam o perfil da demanda

Segundo a pesquisa Workplace Trends 2024, realizada pela Steelcase (2024), 68% das empresas em nível global já adotaram modelos híbridos permanentes. Esses ambientes demandam uma nova abordagem em design de interiores e mobiliário. As empresas agora precisam de móveis que acompanhem a fluidez do trabalho, com mesas que permitam reconfiguração rápida, cadeiras ergonômicas e soluções integradas para facilitar a conectividade.

Para Jamaci Messias, o segredo está em entender as atividades prioritárias de cada espaço. “As tarefas operacionais seguem uma rotina. É preciso ligar e desligar aparelhos com mais facilidade, usar o espaço de forma eficiente e garantir movimentação confortável”, explica. Um bom exemplo são as torres de tomadas integradas às mesas, que resolvem um problema comum: a distância das tomadas. “Com mobiliário de design funcional, as indústrias podem oferecer soluções dentro de sua linha de produção sem elevar o custo de produção”, acrescenta.

Ergonomia e bem-estar viram prioridade no mobiliário

Com o crescimento do home office e a permanência por longas horas diante do computador, a ergonomia passou de diferencial a exigência. Dados do relatório “Ergonomics in the Workplace” da International WELL Building Institute (2023) indicam que 86% dos trabalhadores consideram o conforto físico essencial para sua produtividade. Cadeiras com ajuste lombar, apoios de braço e materiais respiráveis são cada vez mais solicitadas.

Jamaci observa que o simples ato de conectar um notebook ou carregar um smartphone se tornou central na escolha de móveis. “Antigamente, usava-se passa-cabo nas mesas. Hoje, é preciso pensar em quem trabalha com notebook e precisa de tomadas ao alcance, sem esforço ou gambiarra”, explica. Ele também aponta o avanço das cadeiras corporativas, que evoluíram em conforto e design. “Há modelos inspirados até em cadeiras gamer, pensadas para longas jornadas com conforto máximo”, destaca.

Móveis personalizados e modulares ganham mercado

As mudanças no mundo do trabalho exigem que os móveis acompanhem diferentes estilos de vida e preferências pessoais. Isso fez crescer a busca por soluções modulares e personalizáveis. Um levantamento da McKinsey & Company (2023) revelou que 43% dos compradores corporativos valorizam mais a versatilidade do que a estética tradicional dos móveis de escritório.

“Mesmo as grandes empresas entenderam que a personalização é o caminho”, destaca Jamaci. Para ele, adaptar a produção para oferecer versatilidade dentro de uma linha padronizada é uma tendência inevitável. “Um modelo pode ser seriado, mas com mudanças já previstas dentro do portfólio. Isso agrega valor sem elevar o custo de forma significativa”, afirma. A modularidade também facilita a logística e a montagem, além de favorecer ambientes com espaços reduzidos.

Jamaci Messias Damasceno
De acordo com Jamaci Messias Damasceno, Assessor de Assuntos Estratégicos e Relações Institucionais da AMAP e Diretor do Programa Expansão Corporativa, adequar a produção para a versatilidade é o caminho. O mercado não aceita mais soluções engessadas.

Custos e tributação ainda travam as novas configurações de trabalho

Apesar das oportunidades, a adaptação do setor moveleiro às novas configurações de trabalho esbarra em barreiras conhecidas. A mais evidente é o custo Brasil. Com insumos caros, sistema tributário complexo e pouca previsibilidade econômica, muitos fabricantes resistem a grandes mudanças. Jamaci admite: “Com o custo Brasil aumentando a cada dia? Não sei, sinceramente, não sei.”

A reforma tributária, ainda em debate no Congresso, é apontada como um fator-chave para viabilizar uma produção mais ágil e inovadora. Além disso, a cadeia produtiva precisa de atualização constante. “O caminho é manter um radar de tendências ativo e contar com uma equipe capacitada para operar essas mudanças com agilidade”, destaca o especialista. Para isso, investir em qualificação técnica e integração entre design e engenharia é fundamental.

Digitalização muda o jogo para a indústria moveleira

A revolução digital não apenas transformou o ambiente de trabalho, como também a forma como móveis são pesquisados, comparados e comprados. De acordo com relatório da Statista (2024), o mercado global de móveis corporativos online deve crescer 12,8% ao ano até 2028. Os consumidores querem variedade, acesso fácil à informação e possibilidade de compra rápida.

Jamaci ressalta que hoje “não existe mais aquela situação de: ‘Só tem esse modelo!’” A oferta é ampla, e a decisão ocorre em poucos cliques. Por isso, a indústria moveleira precisa repensar seus canais de venda e o modo como apresenta seus produtos. Isso inclui desde o showroom digital até o uso de ferramentas de realidade aumentada, que permitem visualizar o móvel no espaço do cliente antes da compra.

Novas configurações de trabalho exigem resposta rápida da indústria

A adaptação às novas configurações de trabalho deixou de ser uma aposta futurista e se tornou uma exigência do presente. Escritórios híbridos, móveis modulares, ergonomia e bem-estar são palavras que moldam não apenas ambientes, mas também estratégias comerciais e produtivas. Para a indústria moveleira, isso representa a chance de reposicionar sua marca, inovar no portfólio e se conectar com o consumidor de forma mais próxima e eficiente.

Mas, para colher os frutos dessa mudança, é preciso enfrentar os desafios estruturais com coragem e estratégia. Atualizar processos, investir em design funcional e ouvir o mercado são passos essenciais para quem deseja não apenas acompanhar a tendência, mas liderar o movimento. Afinal, como bem lembra Jamaci Messias, “o mercado é quem determina o que é melhor”.

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