A entrevista exclusiva com Euclides Longhi, presidente eleito da Movergs (Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul) para o biênio 2023-2024, revela de maneira clara e direta os impactos da recente catástrofe climática nas indústrias moveleiras do Rio Grande do Sul.
Longhi aborda, em suas respostas, as diversas localidades e setores afetados, destacando tanto os desafios enfrentados pelas empresas quanto as iniciativas adotadas pela Movergs para auxiliar as cidades atingidas.
Além disso, o presidente da Associação ressalta a importância das doações de mobiliário na minimização do sofrimento dos gaúchos e compartilha os planos de longo prazo da Movergs para continuar apoiando as regiões afetadas.
Acompanhe a seguir os principais insights e ações apresentadas por Euclides Longhi durante a entrevista exclusiva:
Plataforma Setor Moveleiro: Como a catástrofe climática afetou diretamente as indústrias moveleiras do Rio Grande do Sul?
Euclides Longhi: Não é exagero dizer que, direta ou indiretamente, todas as pessoas e empresas do Rio Grande do Sul foram, de algum modo, afetadas pela catástrofe climática. É triste acompanhar tantos relatos de perdas e destruição, mas o povo gaúcho é muito trabalhador e persistente, então tenho certeza de que vamos recuperar o nosso estado.
Na região da Serra Gaúcha, onde está localizado o polo de Bento Gonçalves, e na região Nordeste do estado – polo de Lagoa Vermelha, não houve impactos na estrutura física das fábricas de móveis, que seguem operando normalmente e dando suporte aos familiares dos colaboradores que de alguma forma tenham sido impactados.
Em outras regiões, de forma geral, muitas pequenas e médias empresas de mobiliário gaúchas sofreram algum tipo de transtorno, seja na dificuldade para alguns funcionários se deslocarem até a fábrica, seja por alagamentos.
Na Região Metropolitana de Porto Alegre, muitos locais ainda estão com água, então não temos uma dimensão muito precisa. A estimativa da Fiergs (Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul) é de que 90% das indústrias de todos os segmentos tenham sido atingidas.
Já na região do Vale do Taquari estima-se que cerca de 50% das indústrias moveleiras tenham sido prejudicadas de alguma forma.
Os impactos diretos nas grandes indústrias moveleiras gaúchas estão mais relacionados à logística. A grande maioria da nossa produção de móveis é expedida via terrestre, por caminhões, então os bloqueios das estradas estão tornando os prazos de entrega mais longos.
Há, ainda, uma preocupação em relação à chegada de matérias-primas e insumos, especialmente aqueles comprados de fora do estado. Assim como a saída de produtos, o recebimento de matérias-primas acontece, mas com prazo de entrega maior.
Nos casos de exportação de móveis, o transporte marítimo é o mais utilizado pelas indústrias que vendem para fora do país. O que percebemos é a necessidade de utilizar rotas alternativas que tornam o percurso até os portos mais longos.
A interdição do aeroporto Salgado Filho não impacta diretamente o envio dos produtos, mas com certeza dificulta os deslocamentos para viagens de negócios tanto para sair quanto para chegar ao Rio Grande do Sul.
Felizmente, temos outros aeroportos em operação para auxiliar nessa questão, como o de Caxias do Sul.
Plataforma Setor Moveleiro: Quais os principais desafios enfrentados pelas empresas do setor diante dessa situação no Rio Grande do Sul?
Euclides Longhi: Os desafios são muitos, começando por cuidar do bem-estar dos funcionários. A Movergs está em contato constante com as empresas e percebemos que elas estão genuinamente preocupadas com suas equipes, algumas inclusive prestando apoio psicológico.
Ao mesmo tempo, as indústrias precisam cuidar dos seus negócios: compra de matérias-primas, produção, negociação, planejamento logístico, entre outros fatores essenciais para continuar operando neste momento tão delicado para a economia gaúcha, garantindo a entrega dos pedidos e pleno atendimento aos clientes.
Plataforma Setor Moveleiro: Quais as iniciativas já tomadas pela Movergs para ajudar as cidades atingidas?
Euclides Longhi: As chuvas e enchentes ocorridas entre o final de abril e o início de maio de 2024 deixaram mais de 530 mil pessoas desalojadas e mais de 76 mil em abrigos. Milhares de famílias perderam tudo em suas casas e muitas precisarão recomeçar do zero, tijolo por tijolo.
Solidária a essa realidade, a Movergs lançou a ação “Apadrinhe uma Cidade”, que convida indústrias moveleiras de todo o Brasil a doarem móveis às cidades mais atingidas.
Considerando a dimensão da tragédia, inclusive geográfica, orientamos as empresas a entrarem em contato com a Defesa Civil dos municípios impactados para entenderem quais são as principais demandas e enviarem suas contribuições diretamente à localidade escolhida.
As informações sobre a ação estão disponíveis no site e nas redes sociais da Movergs, e nossa equipe fica à disposição para orientar quem fica com alguma dúvida. Temos certeza de que mais uma vez o setor moveleiro vai se unir para ajudar quem precisa.
É importante mencionar que também estamos trabalhando para apoiar as indústrias. Criamos o “SOS Movergs” para auxiliar as empresas com orientações sobre o que for necessário na retomada dos negócios.
Também mantemos nossos associados constantemente atualizados com as principais notícias relevantes ao empresariado, como mudanças tributárias, incentivos fiscais, dados do setor moveleiro e possíveis oportunidades de apoio ao empresariado.
A Movergs se mantém em proximidade com entidades, instituições e representantes do poder público e do setor privado, sempre aberta ao diálogo para alinhar articulações estratégicas e buscar apoios ao setor moveleiro gaúcho.
Plataforma Setor Moveleiro: Qual o papel das doações de mobiliários na minimização do sofrimento dos gaúchos?
Euclides Longhi: A doação de móveis é de grande relevância. Mesmo que tenham sido liberadas verbas federais e estaduais, milhares de famílias vão precisar adquirir quase tudo para retomar a vida.
Os móveis têm um papel importante nas casas, pois além de cumprirem sua função, têm valor afetivo, contam histórias. Infelizmente, muitos deles não existem mais, mas podemos ajudar as pessoas a recomeçarem, a escreverem novos capítulos.
Plataforma Setor Moveleiro: E os planos de longo prazo da Movergs para continuar apoiando as regiões do Rio Grande do Sul afetadas pelas chuvas?
Euclides Longhi: A Movergs sempre está ao lado do setor moveleiro gaúcho. Neste momento deixamos a nossa assessoria disponível, e estamos trabalhando caso a caso individualmente para entender as necessidades dos impactados para oferecer suporte a cada empresa.
Também estamos próximos aos movimentos da Fiergs junto ao governo federal, buscando um plano de reconstrução das indústrias e medidas necessárias, incluindo tópicos urgentes como crédito para as empresas, legislação trabalhista e impostos. Seguimos alinhados a parceiros como o Sebrae para disponibilizar planos de reconstrução às micro e pequenas empresas.
Plataforma Setor Moveleiro: Gostaria de deixar uma mensagem final para nossos leitores?
Euclides Longhi: É emocionante ver o quanto os brasileiros foram e estão sendo solidários com o Rio Grande do Sul. Ao setor moveleiro, fica o convite para apoiarem nossa ação de doação de mobiliários.
À população de modo geral, pedimos que consumam produtos gaúchos, inclusive móveis, e que tenham compreensão com as fábricas, pois elas estão comprometidas a cumprir suas entregas mesmo ocorrendo de um modo um pouco mais demorado neste momento delicado.
Adquirir produtos do Rio Grande do Sul ajuda a movimentar a economia do Estado. A situação ainda está difícil, mas nunca deixamos de acreditar na união das pessoas e da cadeia moveleira!