O setor moveleiro brasileiro, historicamente caracterizado por práticas tradicionais, enfrenta atualmente a necessidade de se reinventar para atender às demandas de um mercado cada vez mais competitivo e globalizado. Nesse contexto, a colaboração e a inovação emergem como estratégias essenciais para empresas que buscam não apenas sobreviver, mas também prosperar.
A integração de novas tecnologias e a adoção de modelos colaborativos têm o potencial de transformar a indústria de móveis, promovendo eficiência, sustentabilidade e personalização. Para compreender essa transformação, este artigo analisa como essas práticas estão sendo implementadas no setor, seus impactos no mercado e os desafios que ainda precisam ser superados. Além disso, aborda as tendências futuras e como as empresas podem se adaptar a essa nova realidade. Ainda mais:
- Por que a colaboração e a inovação são cruciais para o setor moveleiro?
- Essas práticas representam uma tendência consolidada na indústria de móveis?
- Quais são os principais benefícios de adotar estratégias colaborativas e inovadoras?
- Afinal, quais desafios as empresas enfrentam ao implementar essas estratégias?
- Como as empresas podem se adaptar atualmente e incorporar a colaboração e a inovação em suas operações?
A importância da colaboração e inovação no setor moveleiro
A inovação no setor moveleiro vai além da simples adoção de novas tecnologias; envolve a reestruturação de processos e a criação de produtos que atendam às necessidades específicas dos consumidores. Diego Munhoz, CEO da Caemmun Movelaria, enfatiza que a inovação deve ser incorporada à cultura da empresa, destacando que “inovar e fazer de uma forma diferente com mais eficiência não é simplesmente sinônimo de tecnologia; inovação deve estar nas pequenas tarefas em toda empresa”.
A colaboração, por sua vez, além de desempenhar um papel crucial na otimização da cadeia produtiva, também fortalece a competitividade das empresas. Munhoz acredita que a cooperação entre diversos agentes do setor moveleiro pode ser altamente benéfica, pois permite que cada parte compreenda melhor as necessidades umas das outras e compartilhe informações de forma estratégica. Dessa maneira, os processos são acelerados e a eficiência aumenta significativamente. Como resultado, essa abordagem colaborativa pode levar a uma cadeia de suprimentos mais integrada e responsiva às demandas do mercado, garantindo assim maior agilidade e inovação.
Na prática
José Roberto Santos, presidente da Santos Andirá Móveis, complementa essa visão ao destacar que a inovação e a colaboração não surgem apenas de grandes mudanças estruturais, mas também da observação e troca de conhecimento. “Os insights podem vir de diversas formas: conversas informais entre setores, estímulo através de programas de sugestões, outros lugares, outras áreas e outros setores industriais. O importante é estar atento ao que está acontecendo de tendência no momento, traduzir e aplicar à nossa realidade”, afirma. Ele ressalta que diversas empresas têm se destacado justamente por adotarem uma postura mais aberta à inovação, buscando maneiras diferentes de agir e compartilhando esse conhecimento de forma estratégica.
Ao criar um ambiente propício para a troca de ideias e a implementação de novas práticas, o setor moveleiro tem a oportunidade de se tornar mais dinâmico e competitivo. Empresas que incentivam tanto a inovação quanto a colaboração estarão melhor preparadas para enfrentar os desafios do mercado e para responder com rapidez às constantes mudanças no comportamento do consumidor.

A inovação e a colaboração são uma tendência ou uma necessidade?
Os dados reforçam que a inovação não é mais uma opção, mas uma necessidade. De acordo com um estudo da FGV, empresas que investem consistentemente em inovação registram um aumento médio de 20% na produtividade e 15% na margem de lucro. Além disso, um levantamento da Associação Brasileira da Indústria do Mobiliário (Abimóvel) aponta que mais de 60% das empresas do setor moveleiro já adotaram pelo menos uma estratégia de digitalização nos últimos cinco anos.
A colaboração dentro do setor também vem crescendo. Segundo o Sebrae, 45% das indústrias de móveis do Brasil já estabeleceram parcerias estratégicas para desenvolver produtos ou otimizar processos. Essa tendência reforça o ponto de vista de Munhoz. “Acreditamos que muito mais do que uma mudança tecnológica, trata-se de uma mudança de mentalidade e cultura. Isso sim faz a diferença; a tecnologia é apenas um dos combustíveis”.
Além das parcerias externas, a inovação também passa por uma maior integração dentro das próprias empresas. Para Ezequiel Brollo, diretor administrativo industrial, a colaboração entre áreas como engenharia, design, marketing, vendas e produção é essencial para a inovação. “Quando esses setores trabalham juntos, há uma troca mais rica de ideias, permitindo identificar oportunidades, solucionar desafios com mais eficiência e desenvolver soluções inovadoras que realmente atendem às expectativas do consumidor”, explica.
O conceito de inovação aberta tem ganhado força. Empresas que se conectam a startups, institutos de pesquisa e outras indústrias conseguem acelerar processos e testar novas soluções com menor risco e custo reduzido. Um exemplo disso é a adoção da manufatura aditiva. Popularmente conhecida como impressão 3D, ela possibilita a criação de protótipos rápidos e a produção sob demanda, reduzindo desperdícios e estoques.
Os benefícios e os desafios da inovação colaborativa
Empresas que adotam práticas inovadoras e colaborativas no setor moveleiro colhem benefícios diretos, como a redução de custos operacionais e o aumento da eficiência produtiva. O estudo “Panorama do Setor Moveleiro 2023”, da Abimóvel, aponta que fábricas que investem em inovação registram uma redução média de 18% no desperdício de matéria-prima e um aumento de 25% na capacidade produtiva.
Além da eficiência, a inovação impulsiona a personalização dos móveis, algo cada vez mais valorizado pelo consumidor. Modelos de negócios baseados em customização sob demanda já representam cerca de 30% do mercado nacional, de acordo com a Abimóvel. Isso significa que o consumidor busca móveis que se adaptem melhor às suas necessidades e estilos de vida, e as empresas precisam responder rapidamente a essas novas exigências.
A colaboração entre diferentes elos da cadeia produtiva também se mostra um fator decisivo para a inovação no setor. Brollo ressalta que a conexão entre indústrias moveleiras, designers e fornecedores é um diferencial competitivo. “A colaboração vai além do desenvolvimento do produto em si. Designers trazem um olhar voltado para a experiência do usuário, enquanto os fornecedores contribuem com conhecimento técnico sobre materiais e novas tecnologias. Essa integração resulta em móveis que combinam funcionalidade, estética e inovação nos processos produtivos”, afirma. Segundo ele, essa sinergia entre diferentes áreas da cadeia moveleira agrega valor ao produto final e cria um diferencial competitivo no mercado.

E os desafios?
Apesar das vantagens, implementar a inovação de forma estruturada traz desafios. Um dos principais é o investimento financeiro. “Toda empresa deve destinar um percentual do orçamento para inovação. Isso traz benefícios já de curto prazo, com mais eficiência nas tarefas executadas”, defende Munhoz. Entretanto, muitas indústrias de pequeno e médio porte ainda enfrentam dificuldades para obter crédito ou justificar o retorno do investimento.
Outro obstáculo relevante é a resistência à mudança dentro das organizações. Processos tradicionais e estruturas rígidas podem dificultar a implementação de novas ideias. A falta de mão de obra qualificada também é um fator limitante. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), 68% das indústrias brasileiras enfrentam dificuldades para contratar profissionais com formação adequada para lidar com novas tecnologias.
Além disso, Brollo destaca que a inovação vai além da adoção de novas tecnologias, exigindo uma mudança de mentalidade e cultura organizacional. “A tecnologia pode aprimorar a eficiência e a sustentabilidade dos produtos, mas, sem um ambiente que estimule a inovação, sua aplicação pode se tornar limitada. O fator humano é essencial para que novas ideias sejam testadas e implementadas com sucesso dentro das empresas”, avalia.
Como as empresas podem se adaptar e inovar?
Para superar os desafios e, ao mesmo tempo, aproveitar os benefícios da inovação, as empresas moveleiras precisam adotar estratégias práticas e assertivas. Antes de tudo, a capacitação da equipe deve ser uma prioridade. Além disso, investir em treinamentos e programas de qualificação profissional permite que os funcionários se adaptem com mais facilidade às novas tecnologias e metodologias, garantindo, assim, uma implementação mais eficiente da inovação.
A digitalização dos processos também é um caminho essencial. Ferramentas como a inteligência artificial e a Internet das Coisas (IoT) já são realidade no setor, ajudando a otimizar desde a cadeia de suprimentos até o atendimento ao cliente. Além disso, a utilização de big data permite que as empresas analisem tendências de mercado e personalizem a produção de acordo com a demanda do consumidor.
Brollo ressalta que um dos maiores desafios para as empresas é equilibrar inovação com viabilidade econômica. Segundo ele, o segredo está em definir prioridades estratégicas e alinhar os investimentos em inovação ao plano de negócios da empresa. “O investimento em pesquisa e desenvolvimento deve ser direcionado para projetos com maior potencial de retorno. Além disso, metodologias ágeis permitem testar e validar novas ideias rapidamente, reduzindo riscos e custos. Dessa forma, a inovação se torna sustentável e viável no longo prazo”, explica.

Outro ponto essencial é a cultura organizacional voltada para a inovação. A colaboração entre diferentes elos da cadeia produtiva é outra estratégia que pode acelerar a transformação do setor. A conexão com fornecedores, distribuidores, startups e centros de pesquisa pode trazer insights valiosos e possibilitar soluções mais ágeis e eficientes. “Sozinho, ninguém faz inovação de verdade. A colaboração acelera o aprendizado e traz ganhos para todos os envolvidos”, acrescenta Munhoz.
O futuro da inovação no setor moveleiro
O setor moveleiro brasileiro tem um grande potencial de crescimento e modernização. O uso de tecnologias emergentes, como a realidade aumentada para visualização de móveis antes da compra e a automação inteligente das fábricas, deve ganhar cada vez mais espaço nos próximos anos. Segundo projeções da Market Research Future, o mercado global de móveis inteligentes deve crescer 21,8% ao ano até 2030, impulsionado pela digitalização e pela busca por soluções mais sustentáveis. A sustentabilidade, aliás, é outro fator que impulsiona a inovação. A preocupação ambiental tem levado as indústrias a desenvolverem novos materiais e processos menos agressivos ao meio ambiente. O uso de madeira certificada, tintas ecológicas e práticas de economia circular são diferenciais que tendem a se tornar padrões no setor.
Para acompanhar essa transformação, as empresas precisam estar abertas a novas abordagens e investimentos constantes em inovação. “Não basta ter uma boa ideia; é preciso criar uma estrutura dentro da empresa que permita testar, validar e escalar essas ideias”, conclui Munhoz. Brollo reforça essa visão ao destacar que a inovação não deve ser vista como um evento isolado, mas sim como um processo contínuo. “Quanto mais uma empresa cultiva esse mindset, mais preparada ela estará para os desafios do futuro”, afirma.
Exemplos de inovação
Além da tecnologia, a inovação no setor moveleiro também envolve novas formas de agregar valor ao consumidor. Como destaca José Roberto, inovação não se restringe apenas ao desenvolvimento de novos produtos, mas pode estar presente na maneira como os móveis são utilizados ou nos serviços que os acompanham. “Entende-se como inovação não só o que é material. Uma prestação de serviço diferente também é inovação. Um conceito novo no uso de um móvel também é inovação. Aplicar as ideias de forma a gerar valor não é muito fácil no setor moveleiro, mas é algo que as empresas devem buscar continuamente, para que se torne uma cultura geral entre todos. Assim, deixará de ser dificuldade e passará a ser oportunidade”, ressalta.
Seja por meio de novas tecnologias, parcerias estratégicas ou mudanças culturais, a colaboração e a inovação são os pilares que irão definir o futuro do setor moveleiro. As empresas que conseguirem se adaptar a essa nova realidade estarão mais preparadas para crescer e se destacar em um mercado cada vez mais dinâmico e exigente.