Design estratégico no setor moveleiro: inovação que gera valor

Design estratégico no setor moveleiro: inovação que gera valor

A palavra design estratégico nunca esteve tão presente nas conversas sobre o futuro do setor moveleiro. Em um mercado que se equilibra entre tradição, tecnologia e expectativas cada vez mais sofisticadas dos consumidores, adotar uma abordagem estratégica de design deixou de ser apenas uma aspiração de empresas inovadoras. Hoje, trata-se de um movimento essencial para quem pretende competir em cenários dinâmicos, marcados por rupturas de comportamento e pela necessidade de diferenciação constante. Mais do que criar peças bonitas, o design estratégico propõe uma reflexão ampla, que vai do propósito da marca até o impacto que o produto causa na vida das pessoas e no planeta.

O relatório Furniture Industry 2030, elaborado pela CSIL Milano em 2023, indica que 57% das empresas do setor moveleiro que investem sistematicamente em design estratégico apresentaram crescimento superior a 15% na última década. Embora esses números reforcem a relevância econômica do tema, seus efeitos vão muito além das planilhas de faturamento. O design, entendido como ferramenta de inovação e diferenciação, atua como ponto de convergência entre sustentabilidade, experiência do usuário, identidade cultural e competitividade global. No Brasil, onde marcas como Artefacto e Uultis se consolidaram com propostas autorais, cresce o interesse por metodologias que transformam estratégias em experiências memoráveis.

Nesta reportagem, você vai conhecer por que o design estratégico vem ganhando espaço no setor moveleiro, quais benefícios e desafios ele traz, e de que forma empresas podem se preparar para adotá-lo de forma consistente. Ainda mais:

  • Como o design estratégico evoluiu e chegou ao setor moveleiro
  • Por que ele se tornou uma tendência global e local
  • Quais são seus principais benefícios e riscos
  • Exemplos de empresas que criaram diferenciação real com essa abordagem atualmente
  • Como preparar seu negócio para aplicar o design estratégico

Origem e evolução do design estratégico no setor moveleiro

O conceito de design estratégico não surgiu no setor moveleiro, mas encontrou nesse segmento um campo fértil para crescer. Durante décadas, a indústria moveleira concentrou esforços em aumentar a escala e reduzir custos, buscando eficiência operacional como prioridade. Entretanto, a chegada de consumidores mais informados e exigentes expôs uma lacuna: muitas marcas tinham produtos similares e pouca capacidade de se diferenciar de forma sustentável. Esse cenário, segundo Paulo Pacheco, CEO da Evecom Marketing Estratégico, tornou o design uma ferramenta estratégica essencial. “O design estratégico não é apenas estética ou funcionalidade. É um processo de ruptura que cria novas culturas e transforma hábitos de consumo”, observa.

No Brasil, os primeiros movimentos em direção ao design estratégico ocorreram no segmento de alto padrão, como mostram cases da Artefacto e da Uultis. A própria Uultis nasceu de um projeto concebido e desenvolvido por Paulo Pacheco, desde a ideia embrionária, criação da marca, plano de negócios até seu desenvolvimento completo. Ambas desenvolveram propostas baseadas em propósito, inovação e identidade estética clara, ampliando mercados no exterior e fortalecendo a reputação doméstica.

Ao longo da última década, conceitos como sustentabilidade, economia circular e design inclusivo passaram a integrar os projetos de empresas de diferentes portes. Para Katalin Stammer, diretora da Escola Curitibana de Design, a grande mudança é cultural. “O design estratégico extrapola o produto. Ele cria uma lógica de pensamento que envolve criatividade, inovação e adaptabilidade. Sem isso, a empresa corre o risco de ficar para trás”, afirma. Segundo ela, a transformação não acontece por projetos isolados, mas pela integração da mentalidade criativa em todos os processos.

Por que o design estratégico virou tendência global e local

O avanço do design estratégico também tem raízes nas mudanças do mercado consumidor. Uma geração de compradores mais conectados e preocupados com propósito passou a valorizar histórias, materiais sustentáveis e experiências que transcendam a função básica do móvel. Relatório da Deloitte Insights (2022) revelou que 71% dos consumidores globais preferem marcas com posicionamento claro e propósito alinhado aos seus valores. Essa tendência se reflete diretamente no setor moveleiro, pressionando empresas a adotar práticas que combinam diferenciação estética com responsabilidade socioambiental.

Ao mesmo tempo, a aceleração tecnológica criou novas possibilidades para o design. Ferramentas de prototipagem digital, impressão 3D e plataformas de cocriação aproximaram equipes multidisciplinares e encurtaram ciclos de desenvolvimento. Paulo Pacheco acredita que esse cenário representa uma oportunidade única. “Todos querem ser a Apple do seu segmento. Mas poucos entendem que isso só é possível com design estratégico e investimentos em inovação”, destaca.

Paulo Pacheco
Paulo Pacheco, especialista em indústria e varejo de móveis, destaca que o design estratégico virou tendência porque cria novas culturas e diferencia empresas em qualquer mercado.

No Brasil, a conscientização sobre o tema ainda avança de forma desigual. Enquanto algumas empresas já estruturam times e processos de design estratégico, outras mantêm o design restrito a aspectos superficiais. Para Katalin Stammer, a palavra-chave é adaptabilidade. “O principal benefício é ter equipes preparadas para mudanças rápidas. Isso pode ser decisivo em mercados instáveis como o nosso”, ressalta. Ainda que seja um desafio romper antigos paradigmas, os especialistas concordam que o design estratégico veio para ficar.

Benefícios e riscos do design estratégico para empresas moveleiras

Os benefícios do design estratégico são cada vez mais documentados. Além do ganho de competitividade, as empresas relatam aumento de receita, reputação fortalecida e maior engajamento dos consumidores. Segundo pesquisa da McKinsey & Company, empresas líderes em design tiveram crescimento de receita 32% superior à média do mercado em cinco anos. O estudo enfatiza que resultados consistentes vêm quando o design se torna parte da cultura organizacional e não apenas de departamentos isolados.

No setor moveleiro, essa mudança tem impacto direto no ciclo de vida dos produtos e na percepção de valor. Marcas que investem em design estratégico conseguem precificar seus móveis de forma diferenciada e criar uma proposta de valor difícil de replicar. Entretanto, os riscos também existem. A implementação exige recursos financeiros, maturidade de gestão e disposição para experimentar novas abordagens. Para Katalin Stammer, “o design estratégico é uma provocação. E nem sempre é confortável mexer naquilo que parece estar funcionando”.

Outro desafio relevante envolve a formação de equipes com competências multidisciplinares. A integração entre designers, engenheiros, marketing e operações requer uma cultura de colaboração constante. Por isso, a recomendação de especialistas é iniciar com projetos-piloto e gradualmente incorporar o design estratégico à rotina da empresa. Assim, torna-se possível mitigar riscos e colher benefícios de forma sustentável.

Como preparar a empresa para adotar o design estratégico

Implementar o design estratégico demanda uma jornada que começa com o entendimento profundo do propósito da marca. Para Paulo Pacheco, o ponto de partida deve ser a definição clara de qual impacto a empresa deseja gerar no mercado e na sociedade. “Se não houver propósito, o design se torna apenas estética. E estética isolada não cria diferenciação consistente”, argumenta. O passo seguinte envolve capacitar equipes e estabelecer processos que permitam colaboração real entre todas as áreas.

Katalin Stammer sugere que empresas criem espaços regulares de questionamento e criatividade. “Perguntar ‘e se fizéssemos diferente?’ deve ser rotina nas reuniões. Esse hábito abre caminhos e reduz a resistência”, aconselha. Além disso, ela recomenda inserir pequenos momentos de experimentação nos projetos, mesmo que o produto final ainda siga um modelo tradicional. Com isso, a empresa desenvolve maturidade para transformar processos de forma gradual.

Como as soluções podem atender às novas demandas do trabalho híbrido e remoto?
Katalin Stammer, diretora da Escola Curitibana de Design, defende que preparar a empresa para o design estratégico começa com abrir espaço ao questionamento e à criatividade constantes.

Por fim, é importante mensurar resultados com indicadores alinhados ao propósito. Métricas como percepção de marca, índice de satisfação do cliente e impacto ambiental podem complementar dados de faturamento e lucratividade. Esse acompanhamento ajuda a demonstrar que o design estratégico não é custo, mas investimento com retorno tangível.

Design estratégico como força de transformação no setor moveleiro

O design estratégico representa uma oportunidade histórica para empresas do setor moveleiro que desejam criar diferenciação legítima e relevância de longo prazo. Ao unir propósito, inovação e colaboração, ele se consolida como uma força transformadora capaz de gerar valor econômico, social e ambiental. Embora sua implementação exija coragem e disciplina, os exemplos de marcas bem-sucedidas mostram que é possível trilhar esse caminho de forma consistente. Em um mercado cada vez mais competitivo, as empresas que escolherem investir em design estratégico estarão mais preparadas para enfrentar mudanças e criar experiências memoráveis. No fim, o verdadeiro diferencial não estará apenas nos produtos, mas na capacidade de pensar estrategicamente o presente e o futuro.

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