No setor moveleiro, a definição de uma estratégia empresarial clara é apenas o ponto de partida. Para que ela realmente funcione no dia a dia, é preciso que esteja conectada às decisões e rotinas da área industrial. Quando esse alinhamento acontece, a empresa ganha direção, consistência e eficiência. Dando sequência ao tema abordado na última coluna, que tratou das estratégias para posicionamento no mercado, Gazoli fala sobre como transformar esse planejamento em ação
Prezadas e prezados,
Em nossa última coluna, abordamos, de maneira sucinta, a competitividade empresarial e algumas maneiras como as empresas podem se posicionar competitivamente no mercado.
Partindo do princípio de que a empresa já definiu a sua estratégia competitiva, o próximo passo é desenvolver essa estratégia e alinhar com as outras áreas da empresa. Para isso, na coluna de hoje, vamos abordar o tema de alinhamento estratégico.

Afinal, o que é alinhamento estratégico?
Robert Kaplan e David Norton destacam que, para uma corporação gerar valor superior à soma de suas partes, é necessário promover o alinhamento das unidades de negócio para criar sinergia.
Eles afirmam que, “quando uma organização alinha as atividades de suas várias unidades de negócio e unidades de apoio, ela cria fontes adicionais de valor, que denominamos valor gerado pela organização”.
Portanto, o alinhamento estratégico é o processo de harmonizar as atividades, objetivos e recursos de uma organização com sua estratégia competitiva, assegurando que todas as partes trabalhem de forma coordenada para alcançar os objetivos estabelecidos.
Nesse contexto, os indicadores de desempenho desempenham um papel crucial, pois permitem monitorar e avaliar se as ações implementadas estão conduzindo a organização na direção desejada.
Se pensarmos em ferramentas para aplicar esses conceitos, poderíamos citar o BSC (Balanced Scorecard), criado por Kaplan e Norton, como uma ferramenta estratégica eficaz de promover o alinhamento estratégico, traduzindo objetivos corporativos em indicadores e ações concretas em todas as áreas da organização.

De que maneira o BSC auxilia no alinhamento estratégico?
O BSC estrutura a estratégia organizacional em quatro perspectivas inter-relacionadas:
1. Financeira: foca em indicadores como crescimento da receita, redução de custos e aumento da rentabilidade;
2. Clientes: avalia a satisfação, retenção e aquisição de clientes, além da participação de mercado;
3. Processos internos: identifica e aprimora processos críticos que impactam diretamente a entrega de valor ao cliente;
4. Aprendizado e crescimento: concentra-se no desenvolvimento de competências, cultura organizacional e infraestrutura tecnológica.
Além disso, há três tópicos que o BSC pode contribuir para o alinhamento estratégico, que são:
1. Conexão entre estratégia e operação: o BSC desdobra os objetivos estratégicos em indicadores de desempenho;
2. Monitoramento contínuo: com o uso de indicadores de desempenho – chamados de KPIs -, a empresa pode acompanhar o progresso e corrigir desvios antes que impactem os resultados estratégicos;
3. Engajamento organizacional: o BSC facilita a comunicação da estratégia para toda a empresa, promovendo o alinhamento entre líderes, equipes e operações.

Existem, ainda, outras ferramentas para fazer o alinhamento estratégico. Alguns exemplos são:
1. OKRs (Objectives and Key Results)
– Foca no estabelecimento de objetivos estratégicos e resultados-chave mensuráveis;
– Muito utilizado por empresas ágeis, como Google e Spotify.
2. Hoshin Kanri (Desdobramento da Estratégia)
– Método japonês usado para desdobrar a estratégia em toda a organização;
– Garante que cada nível da empresa esteja alinhado com os objetivos estratégicos;
– Usa ferramentas como Matriz X e ciclos PDCA.
3. Mapa Estratégico
– Ferramenta visual que mostra como diferentes objetivos e áreas da empresa estão conectados;
– Muitas vezes usado dentro do BSC, mas pode ser aplicado separadamente.
4. Cinco Forças de Porter
– Analisa o ambiente competitivo para alinhar a estratégia com fatores externos;
– Considera concorrentes, novos entrantes, fornecedores, clientes e produtos substitutos.
5. Matriz SWOT (FOFA)
– Identifica Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças para orientar a estratégia;
– Ajuda a alinhar recursos internos às condições externas do mercado.
Apesar dessas outras opções, ainda considero (gosto pessoal) que o BSC é a ferramenta mais aceitável pelo mercado.
Quais seriam exemplos de aplicação do BSC? Posso citar cinco exemplos no Brasil: (1) Suzano, (2) Petrobras, (3) Hospital Albert Einstein, (4) Sabesp e (5) Siemens Brasil.

Exemplo da Suzano
A Suzano, uma das maiores empresas de papel e celulose do Brasil, foi pioneira na implementação do BSC no País, em 1996. Em resumo, a implementação do BSC foi da seguinte maneira:
1. Alinhamento estratégico
– O BSC foi utilizado para desdobrar a estratégia corporativa em objetivos claros e mensuráveis;
– Criou-se um mapa estratégico que conectava a visão da empresa a metas operacionais.
2. Criação de indicadores de desempenho
Foram definidos KPIs (Indicadores-chave de Desempenho) para medir o progresso nas quatro perspectivas do BSC:
– Financeira (rentabilidade e crescimento sustentável);
– Clientes (satisfação e fidelização);
– Processos internos (eficiência e inovação);
– Aprendizado e crescimento (desenvolvimento de pessoas e cultura organizacional).
3. Uso de tecnologia e informação
– A Suzano integrou o BSC a um sistema informatizado de gestão, permitindo um acompanhamento contínuo dos indicadores;
– Isso possibilitou maior transparência na comunicação da estratégia e no monitoramento dos resultados.
4. Impactos e benefícios
– Maior engajamento dos colaboradores, pois todos passaram a entender melhor como suas atividades contribuem para a estratégia;
– Tomada de decisão mais ágil e baseada em dados confiáveis;
– Melhor coordenação entre unidades de negócio, garantindo um alinhamento estratégico eficiente.

Exemplo da Petrobras
A Petrobras implementou o Balanced Scorecard para melhorar sua gestão estratégica, garantindo que suas unidades de negócio estivessem alinhadas aos objetivos corporativos. Um resumo da Implementação do BSC na Petrobras seria:
1. Objetivo da implementação
– A Petrobras adotou o BSC para traduzir sua estratégia em metas e indicadores mensuráveis;
– O foco era aprimorar o planejamento estratégico, garantir alinhamento interno e melhorar o desempenho operacional.
2. Etapas do processo
O BSC foi implantado em duas fases:
– Primeira fase: desenvolvimento de um painel corporativo, com indicadores estratégicos para toda a empresa;
– Segunda fase: desdobramento do BSC para as unidades de negócio, garantindo que cada área tivesse metas alinhadas ao plano estratégico global.
3. Definição de indicadores (KPIs)
Foram estabelecidos indicadores-chave de desempenho (KPIs) para monitorar quatro perspectivas:
– Financeira (rentabilidade, investimentos e custos);
– Clientes e Mercado (atendimento, competitividade);
– Processos Internos (eficiência, segurança operacional);
– Aprendizado e Crescimento (capacitação, inovação tecnológica).
4. Tecnologia e monitoramento
– A Petrobras integrou o BSC a um sistema informatizado de gestão, permitindo o acompanhamento contínuo dos resultados;
– Os dados eram analisados periodicamente para ajustes estratégicos.
5. Resultados e impactos
– Melhor alinhamento entre estratégia e execução;
– Aprimoramento da governança corporativa e da tomada de decisões;
– Maior transparência na gestão e no acompanhamento do desempenho organizacional.

Quais seriam os benefícios do alinhamento estratégico com o BSC?
Ao utilizar o BSC para alinhar a estratégia empresarial à industrial, as empresas podem:
– Melhorar a coerência organizacional: garantir que todos os departamentos trabalhem em sinergia para alcançar os objetivos comuns, refletindo as prioridades industriais;
– Aumentar a responsividade ao mercado: adaptar-se rapidamente às mudanças nas tendências de consumo e inovações tecnológicas, mantendo a competitividade no setor;
– Otimizar a alocação de recursos: direcionar investimentos para áreas que oferecem maior retorno em termos de eficiência produtiva e satisfação do cliente.
Por fim, podemos dizer que a integração eficaz entre a estratégia empresarial e a estratégia industrial é vital para o sucesso das empresas. O BSC oferece uma estrutura robusta para esse alinhamento, permitindo que as empresas traduzam sua visão estratégica em ações concretas que refletem as exigências e oportunidades da indústria.
Porém, a dúvida fica: como melhorar a produção para que a empresa possa se diferenciar dos seus concorrentes?
Até agora abordamos os temas de estratégia competitiva e alinhamento estratégico. Em teoria, a empresa já definiu como competirá no mercado e como irá atender as necessidades dos clientes e stakeholders.
Contudo, ainda não sabemos como colocar isso em prática no chão-de-fábrica. O caminho para isso é desenvolver as estratégias funcionais, em específico a estratégia de produção, que será tema da nossa próxima coluna.
Até a próxima!

Escreveu essa coluna
André Gazoli, que possui uma sólida formação acadêmica, destacando-se pela graduação em Engenharia de Produção (2008), mestrado em Engenharia de Produção e Sistemas (2012, com ênfase em Mass Customization na indústria de automóveis) e doutorado em Engenharia de Produção e Sistemas (2019, com ênfase em Lean Manufacturing na indústria moveleira), todos pela renomada instituição PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).
Atualmente desempenha papel fundamental como professor adjunto na prestigiosa UFPR (Universidade Federal do Paraná), no Campus Jandaia do Sul, onde contribui ativamente para o desenvolvimento e aprimoramento do ensino e pesquisa na área de Engenharia de Produção.
Sua experiência abrange uma vasta gama de conhecimentos, com foco específico em áreas como Produção Enxuta, Mass Customization, Simulação de Eventos Discretos, Planejamento e Controle da Produção e Gestão de Operações.
Destaca-se por sua atuação em projetos relevantes no LEPEP (Laboratórios de Extensão e Pesquisa em Engenharia de Produção), sendo reconhecido por sua contribuição significativa para a evolução e aplicação prática de conceitos inovadores nesse campo.