No cruzamento entre design, tecnologia e inovação, os móveis inteligentes vêm despontando como uma revolução silenciosa no mercado. Ao integrar dispositivos conectados e automação, esses produtos não apenas transformam o uso doméstico, mas também estão redesenhando a dinâmica do setor B2B. Mais do que uma tendência passageira, os móveis inteligentes prometem remodelar a relação entre fabricantes, varejistas e consumidores finais, promovendo eficiência, personalização e novas oportunidades de negócio.
A convergência entre a Internet das Coisas (IoT) e o setor moveleiro levanta uma série de questões: quais os benefícios para empresas e consumidores? Que desafios técnicos e éticos acompanham essa inovação? E, principalmente, como os fabricantes podem se adaptar a esse novo cenário tecnológico? Nesta matéria, exploramos essas questões, com base em dados, entrevistas e projeções de especialistas do setor. Ainda mais:
- Afinal, como os móveis inteligentes podem impactar a sustentabilidade no setor moveleiro?
- Quais setores do mercado B2B podem se beneficiar mais dos móveis inteligentes atualmente?
- Qual é o papel da legislação na adoção de móveis com IoT?
- Quais as principais barreiras para fabricantes que desejam investir em móveis inteligentes?
- Como a coleta de dados de móveis inteligentes pode influenciar o design de novos produtos?
Móveis inteligentes e a integração IoT: o que está em jogo?
Os móveis inteligentes representam uma evolução significativa no setor. Por meio da IoT, eles são capazes de coletar dados, interagir com usuários e adaptar-se às necessidades específicas de cada ambiente. Paulo Pacheco, especialista em indústria e varejo de móveis e proprietário da Evecom Marketing Estratégico, ressalta que essa integração oferece uma nova perspectiva de relacionamento com o consumidor. “A coleta de dados sobre hábitos e costumes permite uma adaptação mais precisa às demandas do mercado, resultando em produtos que atendem de forma mais eficiente às necessidades dos clientes”, afirma.
Segundo um relatório da McKinsey publicado em 2023, a adoção de tecnologias IoT no setor moveleiro pode gerar um impacto de até 10% na redução de custos operacionais em empresas B2B. Essa economia é alcançada por meio de monitoramento remoto, manutenção preditiva e otimização de processos logísticos, áreas que se beneficiam diretamente da automação. No entanto, como aponta Adeilton Pereira, presidente do Grupo Officina e vice-presidente da Abimóvel, é preciso equilibrar inovação com responsabilidade no uso de materiais e processos produtivos. “Primeiramente, respeitar os limites das matérias-primas e do processo produtivo. Simplificando, é dar liberdade, mas com responsabilidade”, afirma Pereira, destacando a importância de um planejamento criterioso para a produção em larga escala.
Os benefícios e os desafios da inovação tecnológica
Os ganhos trazidos pelos móveis inteligentes são inegáveis. Além da eficiência operacional, a personalização é um dos grandes atrativos dessa tecnologia. “Com os dados coletados, é possível oferecer produtos customizados que aumentam a satisfação do cliente e fortalecem o vínculo com as marcas”, explica Pacheco. Outro benefício apontado é a melhoria na gestão de recursos, com móveis que monitoram consumo energético e indicam formas de economizar, contribuindo para a sustentabilidade. Pereira complementa, afirmando que o potencial da personalização ainda não foi plenamente explorado. “Ninguém fez isso em larga escala ainda, mas todos nós, como consumidores, desejamos ser tratados de forma única. Ou seja, quando alguém conseguir entregar essa experiência sem atritos, certamente escalará exponencialmente seu negócio.”
No entanto, a inovação traz consigo desafios complexos. A questão da privacidade é um dos pontos críticos, como destaca o especialista. “Embora o Brasil tenha uma lei avançada de proteção de dados, consumidores precisam estar atentos aos certificados de segurança e aos termos de uso de dispositivos IoT para evitar problemas futuros.” Além disso, o gerenciamento de atualizações em dispositivos conectados é um entrave, principalmente em grandes operações B2B, onde a integração de sistemas heterogêneos exige um esforço técnico significativo.
Além disso, Pereira ressalta que a customização em larga escala exige investimentos robustos em tecnologia e infraestrutura. “O uso intensivo de tecnologia é determinante para viabilizar a customização, que, naturalmente, tem custos mais elevados”, afirma.
Impactos no relacionamento entre fabricantes de móveis inteligentes e clientes
A transformação gerada pela IoT vai além da tecnologia e afeta diretamente a dinâmica entre fabricantes e clientes B2B. Segundo Pacheco, a coleta de dados em tempo real cria um ambiente mais colaborativo. “Fabricantes e varejistas podem tomar decisões mais informadas, superando a antiga prática baseada na intuição. Isso torna a relação mais assertiva e estratégica.”. A personalização também redefine o papel do fabricante no pós-venda. Com móveis conectados, é possível oferecer suporte técnico remoto, realizar ajustes em software e até mesmo prever falhas antes que elas ocorram, o que reduz custos operacionais e melhora a experiência do cliente.
De acordo com dados da consultoria PwC, empresas que implementam IoT na cadeia produtiva observam um aumento de até 25% na retenção de clientes. Pereira acrescenta que a crescente demanda por móveis personalizados influencia diretamente o planejamento e os investimentos das empresas. “Isso afeta desde o posicionamento de mercado e investimentos em branding até a aquisição de máquinas, equipamentos e softwares apropriados. Também impacta os estoques e o tempo de entrega do produto acabado.”
O futuro da convergência entre tecnologia e mobiliário
Olhando para o futuro, especialistas apontam que a adoção de móveis inteligentes é uma questão de tempo. Paulo Pacheco acredita que essa tecnologia está diretamente alinhada às demandas dos consumidores modernos. “Móveis que monitoram a qualidade do sono, a ergonomia e até a umidade do ar já são realidade. Ou seja, a tendência é que eles se tornem cada vez mais integrados ao cotidiano das pessoas.”
Essa visão é corroborada por Pereira, que vê nesse movimento um ponto de ruptura no setor. “Quando alguém conseguir entregar uma jornada de compra fluida do começo ao fim, com personalização sem atritos, todos os demais terão que seguir esse caminho”, prevê. Essa visão é corroborada por um estudo da Deloitte de 2024, que prevê um crescimento anual de 15% no mercado global de móveis inteligentes até 2030. As inovações esperadas incluem maior integração com inteligência artificial, conectividade aprimorada por meio do 5G e materiais sustentáveis que reduzam o impacto ambiental.
Contudo, a adaptação das fábricas a esse novo modelo de produção é apontada como o principal obstáculo. “As rápidas mudanças tecnológicas exigem investimentos robustos em infraestrutura e capacitação técnica, além de um planejamento estratégico que priorize a inovação sem comprometer a qualidade e a consistência do produto final”, conclui Pacheco.
O que esperar?
A convergência entre IoT e o setor moveleiro abre caminho para uma nova era de funcionalidade e conectividade. Embora os desafios sejam significativos, as oportunidades para empresas B2B que abraçarem essa transformação são ainda maiores. Ao colocar o consumidor no centro das estratégias e investir em inovação, o setor moveleiro tem a chance de não apenas acompanhar as tendências, mas liderar um movimento global em direção a um futuro mais inteligente e eficiente.