Comércio e PIB global
Enquanto a projeção para inflação sobe para 6,05% em 2023 e a expectativa para o Produto Interno Bruto (PIB) Nacional ensaia avanço, mas de apenas 1,0%, segundo o Banco Central na mais recente edição do Boletim Focus, o problema parece continuar sendo global. Nós já falamos aqui na Plataforma Setor Moveleiro, que à beira de uma recessão global, o crescimento da economia mundial está diminuindo diante de uma inflação elevada, taxas de juros mais altas, investimentos reduzidos e problemáticas causadas pela invasão russa na Ucrânia— clique para ler. Mas como tudo isso, então, vem atingindo o consumo e o desempenho do comércio global de bens?
Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), o crescimento do comércio global e do PIB mundial em 2023 deverá ficar abaixo da média dos últimos 13 anos. Sim, a previsão para este ano é de crescimento de apenas 1,7% do volume de comércio de bens entre países, que não inclui serviços. Isso, depois de uma expansão de 2,7% no ano passado. Dessa forma, apontando retração.
A previsão está presente no relatório anual de estatísticas e perspectivas de mercado da entidade. A última edição foi divulgada em abril, em Genebra, na Suíça, por especialistas da Global Trade Outlook and Statistics (Perspectivas e Estatísticas do Comércio Global).
Balanço anual da Organização Mundial do Comércio
O mesmo estudo também estima que o PIB global aumentará 2,4% neste ano, ante 3% no ano passado. Até então, as médias de projeções mais baixas já registradas foram de 2,6% e 2,7%, para o crescimento do comércio e do PIB, respectivamente. Ainda assim, a previsão é maior do que a estimativa feita em outubro, quando o número era de apenas 1% para 2023.
Os economistas da OMC atribuíram essa leve melhora ao relaxamento das medidas de Covid-19 na China. No entanto, os novos indicadores ficam abaixo da média desde 2010. “Inflação alta, guerra na Ucrânia, política monetária restritiva, tensões geopolíticas, as altas taxas de juros, bem como as incertezas do mercado financeiro são algumas das razões. Porém, não só essas, da previsão pessimista para 2023”, afirma o economista-chefe da OMC, Ralph Ossa.
Sugestões e projeções para 2024: há perspectivas de melhora no horizonte?
Na busca, portanto, de reverter ou ao menos minimizar a situação, que pode resultar num péssimo efeito cascata ao redor do globo, a OMC pede aos governos que evitem a fragmentação do comércio e abstenham-se de introduzir obstáculos ao varejo local e ao comércio internacional.
Seguindo nesse caminho, as projeções para 2024 são melhores: prevendo-se um crescimento de 3,2% no comércio e de 2,6% no PIB global.
Para o diretor-geral da OMC, Ngozi Okonjo-Iweala: “O comércio continua a ser uma força de resiliência na economia global. Mas permanecerá sob pressão de fatores externos em 2023”, disse. “Investir na cooperação multilateral no comércio, como os membros da OMC fizeram em nossa 12º Conferência Ministerial, em junho passado, reforçaria o crescimento econômico e os padrões de vida das pessoas no longo prazo”, completou o diretor-geral.
Sobre o ‘otimismo’
As previsões para este ano sobre a economia mundial ficam em situação abaixo do que no ano passado. Por outro lado, vale lembrar que as previsões da OMC para 2022 não se concretizaram. A Organização esperava um crescimento de 3,5%. Entretanto, um declínio mais acentuado do que o esperado no quarto trimestre (devido a todas as questões pontuadas pelo economista-chefe da entidade) atrapalhou o crescimento durante o ano.
Nada que se compare a 2021. Ano em que, após um período de retração puxada pela pandemia em 2020, o comércio deu um salto de incríveis 9,4%. E, para 2024, a OMC parece estar otimista: prevê um crescimento de 3,2% no comércio e de 2,6% no PIB. No entanto, a entidade alerta que essa estimativa é mais incerta do que o normal devido à presença de riscos negativos substanciais, incluindo tensões geopolíticas, choques de oferta de alimentos e a possibilidade de consequências imprevistas do aperto monetário.
Taxas de juros altas inibem crescimento das indústrias
O aumento das taxas de juros nas economias avançadas também revelaram fraqueza nos sistemas bancários, que podem levar a uma instabilidade financeira mais ampla, se não for controlada, acredita a OMC.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, também faz críticas aos juros altos. “As taxas de juros elevadas vão continuar inibindo a atividade econômica e, por consequência, a indutrial”, afirma. Diante desse cenário, a CNI também revisou para baixo a projeção para o crescimento do PIB brasileiro em 2023 e projeta que a indústria brasileira continuará estagnada esse ano, com leve crescimento de 0,1%, mediante a estimativa anterior de alta de 0,8%.
Crescimento do comércio global de móveis e colchões brasileiros
No Brasil, os números das exportações brasileiras de móveis e colchões voltaram a subir em fevereiro de 2023. No segundo mês do ano, último mês de referência, foram US$ 49,4 milhões em móveis enviados para fora do país. Valor que simboliza uma alta de 9,6% na exportação, quando comparado com o mês anterior (US$ 45,1 milhões).
Observou-se, também, que o volume de peças exportadas correspondeu a 1,3 milhões ao longo do segundo mês do ano, 100 mil unidades a mais que no mês anterior. Dessa forma, representando um crescimento de 8,9% na comparação com janeiro. Ou seja, foram exportadas mais de 2,5 milhões de peças de móveis e colchões no primeiro bimestre de 2023.
Os dados são referentes ao levantamento exclusivo encomendado pela Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (ABIMÓVEL) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) por meio do IEMI – Inteligência de Mercado para o Projeto Setorial Brazilian Furniture.
Recapitulando
Importante relembrar que, segundo relatórios divulgados pelas mesmas entidades, os resultados do acumulado de 2022 (janeiro a dezembro) demonstraram quedas em torno de 27,6% em volume e de 11,4% em valores exportados. Isso, porém, frente a uma base de comparação bastante elevada em 2021, quando a indústria moveleira nacional alcançou resultados históricos, ao exportar mais de 30,1 milhões de peças de móveis e colchões, culminando em cerca de US$ 938 milhões em receita.
Embora o Brasil esteja entre os oito principais países produtores de móveis no mundo, posiciona-se no 26º lugar no ranking de exportadores, demonstrando que ainda há campo para expandir.
Especialistas em inteligência de mercado do IEMI, estimam um potencial de US$ 1,1 bilhão nas exportações brasileiras no setor. Para isso, porém, novos mercados são necessários, assim como uma maior diferenciação do mix de produtos e a elevação do valor agregado dessas peças. Outra oportunidade para a indústria brasileira de móveis está relacionada aos quesitos qualidade, design e sustentabilidade, do qual falamos mais na próxima semana aqui na Plataforma Setor Moveleiro.