Regulamentações ambientais no setor moveleiro: impactos na produção e no design

Regulamentações ambientais

Nos últimos anos, a demanda por práticas sustentáveis no setor industrial aumentou significativamente, impulsionada por regulamentações ambientais mais rigorosas. Na indústria moveleira brasileira, que abrange mais de 27 mil empresas e emprega diretamente cerca de 273 mil pessoas, essas exigências têm transformado o modo como móveis são projetados e fabricados. O impacto vai além das fábricas, afetando estratégias de mercado, custos e até mesmo a relação com o consumidor final.

Apesar de os esforços pela sustentabilidade serem bem-vindos, micro, pequenas e médias empresas enfrentam desafios para se alinhar às novas regras. Falta de infraestrutura adequada, custos elevados e interpretações questionáveis de normas por parte de fiscais tornam a transição mais lenta. Nesta matéria, discutimos como essas regulamentações estão moldando o setor moveleiro, os desafios enfrentados pelos empresários e como a sustentabilidade pode se tornar uma vantagem competitiva. Ainda mais:

  • Quais são as principais regulamentações ambientais que afetam o setor moveleiro atualmente?
  • Como essas normas impactam o design e a produção de móveis?
  • Quais são os desafios para se adequar às exigências?
  • Quais oportunidades de mercado podem surgir com a sustentabilidade?
  • Afinal, o setor moveleiro brasileiro está preparado para competir globalmente?
Regulamentações ambientais
Estudo do XII Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental (2021) aponta que a gestão ambiental no setor moveleiro é limitada pela falta de recursos e conhecimento técnico.

O impacto das regulamentações ambientais no setor moveleiro

As regulamentações ambientais são essenciais para a preservação do meio ambiente, mas apresentam desafios consideráveis para empresas do setor moveleiro, especialmente as de pequeno e médio porte. Jamaci Messias Damasceno, assessor de assuntos estratégicos e relações institucionais da AMAP, destaca que, embora haja avanços na conscientização dos empresários, a realidade ainda está distante do ideal. “Existe uma distância considerável entre as exigências e a realidade. No entanto, os esforços para atingir o mínimo são grandes. A consciência do empresário moveleiro está crescendo, e isso é um ponto positivo.”

Entre as dificuldades citadas por Damasceno estão a falta de infraestrutura básica, como coleta seletiva e saneamento. “Num país de muitas contradições, será extremamente difícil atingir o ideal enquanto o poder público focar apenas em arrecadação sem oferecer os elementos estruturantes. É uma luta insana,” afirma. Essas lacunas criam uma barreira adicional para empresas que já enfrentam desafios financeiros e estruturais.

Produção e design sob pressão

As exigências por sustentabilidade também impactam diretamente o design e a produção de móveis. A busca por soluções mais ecológicas muitas vezes implica em custos mais elevados e mudanças significativas nos processos. No entanto, essas adaptações são inevitáveis para atender às demandas do mercado e às regulamentações ambientais.

Damasceno explica que, em muitos casos, o reaproveitamento de materiais ainda é um grande desafio. “Seria ótimo se todo resíduo pudesse resultar em um reaproveitamento pleno, mas isso não acontece ainda. Há uma discrepância entre o fornecimento de matéria-prima, o design e o mercado,” observa. Ele ressalta que o problema é agravado pela rotatividade de padrões de materiais, como o MDF, que muitas vezes deixa as marcenarias com sobras difíceis de reutilizar.

No entanto, o design pode ser uma ferramenta estratégica para reduzir o impacto ambiental. “No caso de móveis seriados, o design aliado a um planejamento de marketing resolve o problema. Mas, para móveis planejados, isso depende muito da consciência do empresário e do colaborador,” completa Damasceno.

Jamaci Messias Damasceno
De acordo com Jamaci, para pequenas empresas, o design sustentável ainda é um desafio caro. Ainda assim, é essencial para alinhar produção responsável e competitividade no mercado.

Desafios para a adaptação às normas

A implementação de práticas sustentáveis no setor moveleiro esbarra em uma série de desafios, que vão desde custos operacionais até a falta de conhecimento técnico por parte de órgãos fiscalizadores. Damasceno relata casos em que empresários foram penalizados injustamente devido a interpretações equivocadas das normas ambientais e trabalhistas. “Recentemente, um empresário foi multado por insalubridade de um funcionário que alegava exposição a thinner com tolueno. Porém, o funcionário era montador, não operário do chão de fábrica, e usava máscara individual.”

Esses incidentes criam insegurança jurídica para os empresários, que já enfrentam dificuldades para equilibrar os custos de adequação. “O principal desafio é encontrar soluções viáveis em termos de custo e viabilidade. Em uma época de mão de obra escassa, as empresas ainda enfrentam o dilema de conscientizar os colaboradores e lidar com frequentes descumprimentos,” comenta Damasceno.

Sustentabilidade como vantagem competitiva

Apesar dos obstáculos, as regulamentações ambientais podem ser uma oportunidade para as empresas que conseguem se destacar por suas práticas sustentáveis. O mercado global tem valorizado cada vez mais produtos ecologicamente responsáveis, e atender a essas demandas pode abrir novas possibilidades para exportação e fidelização de clientes.

Damasceno, no entanto, alerta que as certificações ambientais muitas vezes se tornam barreiras comerciais disfarçadas, especialmente para pequenas empresas. “Se cada empresa for buscar todas as certificações exigidas, o custo é inviável. É preciso que as legislações sejam implementadas por etapas, com políticas públicas específicas para o setor,” afirma. Ele defende que incentivos fiscais e subsídios poderiam facilitar a transição para práticas mais sustentáveis, ao mesmo tempo em que fortaleceriam a competitividade do setor no mercado global.

O futuro do setor moveleiro e as regulamentações ambientais

O setor moveleiro brasileiro tem o potencial de liderar transformações rumo à sustentabilidade, mas enfrenta um longo caminho até lá. Segundo Damasceno, é essencial que haja um esforço conjunto entre governo e indústria. “O que precisa ser feito é transferir para o poder público a responsabilidade pela infraestrutura básica. Se o governo fizer a sua parte, as empresas farão a delas.”

Com incentivos adequados e uma abordagem mais estruturada, as regulamentações ambientais podem se tornar um impulsionador de inovação e crescimento no setor. A chave para o sucesso está em equilibrar as exigências com a realidade das empresas, permitindo que práticas sustentáveis sejam integradas de forma acessível e eficiente. A sustentabilidade, nesse contexto, não é apenas uma exigência, mas uma oportunidade de reposicionar o setor moveleiro brasileiro como líder global em responsabilidade ambiental e inovação.

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