Indústria brasileira – Nós falamos no início da semana sobre a confiança do consumidor brasileiro, em queda no primeiro mês do ano e refletindo, claro, na indústria. Após uma melhora no otimismo do empresariado na indústria moveleira em dezembro, a confiança no setor de móveis caiu mais uma vez, de 50,7 para 46,5 pontos. Ficando, portanto, abaixo da linha que divide confiança de desconfiança, segundo o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI), medido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O recuo das expectativas segue a trajetória de quase toda a indústria brasileira, com 19 dos 29 setores consultados estando abaixo de 50 pontos. Indicando, portanto, que o setor entra com falta de confiança em 2023. Não é novidade, porém, que o empresário industrial no Brasil já esteja cauteloso há bastante tempo. Isso, frente às mudanças de cenário e diversos entraves produtivos que persistem, embora demonstrem certa melhora no início deste ano.
Sondagem Industrial recém-publicada pela CNI, aponta que ao final do ano passado, a elevada carga tributária voltou ao primeiro lugar no ranking dos principais problemas elencados por empresários da indústria. Posição que há tempos vinha sendo ocupada pela falta ou alto custo de matérias-primas. Fator que continua, contudo, atravancando a produção nacional, mas agora no menor patamar desde o terceiro trimestre de 2020. O que, dentre tantos problemas, mostra-se como uma notícia relativamente otimista, afinal.
Elevada carga tributária é ‘pedra no sapato’ da indústria brasileira
O problema da elevada carga tributária foi assinalado por 32,1% dos empresários industriais ouvidos pela CNI. Número, porém, que representa uma redução de 0,7 p.p. em relação ao trimestre anterior. “A elevada carga tributária é um problema recorrente e costuma, historicamente, ocupar a primeira posição do ranking. Mas por conta dos efeitos trazidos pela pandemia, passou a ocupar o segundo lugar”, explica Marcelo Azevedo, gerente de análise econômica da CNI. A Reforma Tributária, aliás, é um dos pontos mais urgentes para a retomada da industrialização brasileira — “Confiança em baixa no setor industrial brasileiro no início de 2023: quais os planos para a reindustrialização do País?”.
Dessa forma, a falta ou alto custo de matérias-primas deixou de liderar o ranking de problemas na indústria — uma lista em que, convenhamos, estar em primeiro lugar não é nada bom —, após os empresários industriais seguirem com o ritmo de assinalações em queda pelo sétimo trimestre consecutivo. Chegando em dezembro de 2022, como citamos, ao menor patamar desde o terceiro trimestre de 2020.
Além dos dois problemas, destaca-se, ainda, a demanda interna insuficiente, que registrou aumento expressivo, de 5,1 pontos, nas assinalações no último trimestre. Tendo sido citada, então, por 29,8% dos empresários entrevistados, aproximando-se dos percentuais pré-pandemia e ganhando o terceiro lugar.
Principais problemas no setor industrial
Na quarta posição de problemas elencados estão as taxas de juros elevadas. Que embora assinalada por 23,8% dos empresários industriais, apresentou queda de 1,1 p.p. em relação à última Sondagem. Isso, após seis trimestres consecutivos de alta.
Em 2022, foram registradas sucessivas altas em relação à questão, com percentuais acima dos 20% em todos os trimestres do ano. Revelando, então, que o problema com as taxas de juros ganhou destaque e ainda permanece em patamar elevado. Essa percepção por parte dos empresários está relacionada ao cenário econômico do Brasil, especialmente devido aos reajustes recorrentes na taxa Selic, como estratégia para frear o avanço da inflação no País.
Mais problemas
Completa a lista de problemas a falta ou o alto custo de trabalhador qualificado e também o desempenho da produção industrial.
A produção, o emprego industrial e a utilização da capacidade instalada (UCI), aliás, registraram queda em dezembro na comparação com novembro. O que, no entanto, é um comportamento esperado para o período. Já os estoques sofreram pequeno recuo, mas seguem acima do planejado.
Em relação às condições financeiras no último trimestre de 2022, os empresários registraram piora. Por outro lado, a maioria dos índices de expectativas para janeiro de 2023 aumentou e o otimismo permaneceu difundido. Além disso, a intenção de investimento permaneceu estável no período, alcançando 53,7 pontos. Permanecendo, assim, acima da média histórica, o que indica que, apesar da desconfiança quase que generalizada, há intenção de investir na indústria. Que bom!
Expectativas para o futuro
Já em janeiro de 2023, o índice de expectativa de demanda registrou 52,2 pontos, o que representa aumento de 1,4 ponto em relação a dezembro. O índice de expectativa de quantidade exportada apresentou leve aumento de 0,4 ponto, registrando 51,1 pontos. Enquanto o índice de expectativa de compras de matérias-primas foi de 51,3 pontos, resultado 1,4 ponto maior que dezembro.