Criar novos produtos é, para muitas empresas moveleiras, uma mistura de empolgação, expectativa e risco. Afinal, cada linha que chega ao mercado tem potencial para se tornar um sucesso de vendas ou de encalhar nas prateleiras. E, muitas vezes, a diferença entre um e outro está nos erros cometidos bem antes do lançamento. Nesta coluna, você vai entender por que algumas apostas não se confirmam e quais armadilhas ainda são comuns no processo de desenvolvimento. Boa leitura!
Quem trabalha com móveis sabe: poucas coisas são tão frustrantes quanto investir meses em uma nova linha, lançar com toda expectativa… e ver o produto encalhado no estoque.
O problema é que, muitas vezes, a decisão de desenvolver novos produtos ainda parte de um processo cheio de “achismos”. O dono da fábrica aposta no feeling. O representante, por outro lado, diz que o cliente vai gostar. O designer tenta trazer algo novo, mas sem uma base de dados ou validação real. Resultado? Produto bonito, mas que não gira.
Depois de mais de uma década trabalhando diretamente com desenvolvimento de produto para a indústria moveleira, convivendo com equipes de P&D, marketing e comercial, e hoje à frente do estúdio, percebi que os erros que levam um produto ao fracasso são quase sempre os mesmos. Por isso, separei alguns dos mais recorrentes!

1. Criar produto olhando só para dentro da fábrica (e não para o mercado)
É comum o desenvolvimento partir das limitações produtivas ou dos materiais que estão sobrando no estoque. Claro que custo e capacidade produtiva são fundamentais. Porém, criar um móvel que nasce “pra dentro” e não com foco no consumidor final é um atalho para o fracasso.
2. Não estudar a concorrência direta
Antes de qualquer desenho, é preciso entender: quem já está vendendo bem na mesma faixa de preço? Quais são os diferenciais? O que o consumidor já está acostumado a comprar? Muitas fábricas erram ao criar produtos que, na prática, não competem de verdade com o que o mercado pede.
3. Apostar em soluções estéticas que o público não entende (ou não valoriza)
Nem sempre o móvel que chama atenção na feira é o que vai girar na ponta. Afinal, muitas vezes, um detalhe que o designer acha lindo pode ser um impeditivo de venda para o consumidor final – seja pelo preço, seja pela usabilidade ou até pela dificuldade de combinar com o restante da casa.

4. Não ouvir o comercial (mas também não deixar o comercial decidir tudo)
Sim, o time de vendas tem contato direto com o cliente e traz informações preciosas. Mas criar só com base no “pedido do representante” também é perigoso. Dessa forma, equilíbrio é tudo: unir a visão de mercado com o conhecimento técnico de produção e design.
5. Falta de pesquisa com o consumidor final
Hoje existem ferramentas acessíveis que permitem testar conceitos, validar preferências e entender melhor o comportamento de compra antes mesmo de cortar a primeira chapa de MDF. Quem não faz isso, trabalha no escuro.
Criar produtos que vendem não é sorte. É método, análise e um olhar atento para o que realmente conecta com o consumidor, seja ele do público C, D ou de uma linha mais alta.
Se tem uma coisa que aprendi nesses anos de estrada é que o bom design na indústria moveleira vai muito além de estética. É entender comportamento, mercado e produção… tudo junto.
E você, já parou pra olhar com atenção os motivos por trás do desempenho dos seus últimos lançamentos?!

Escreveu essa coluna
Gilson Vaz é designer de interiores com MBA em Criatividade e Inovação no Ambiente Empresarial.
Atua como diretor criativo do Estúdio Gilson Vaz, um estúdio de design especializado em pesquisa e desenvolvimento de produtos para a indústria moveleira e de acessórios, contando com uma equipe multidisciplinar.
Com mais de 10 anos de experiência, já colaborou com grandes marcas, como Kappesberg, desenvolvendo produtos que aliam design estratégico, viabilidade produtiva e com um diferencial, a avaliação do consumidor final.
O estúdio oferece serviços como análise e gestão de portfólio, pesquisa e desenvolvimento de mobiliário, modelagem 3D, e pesquisas de validação com consumidores.
Sempre alinhado às principais marcas de previsões de tendências, o estúdio mantém presença ativa nas maiores feiras do setor moveleiro e segmentos adjacentes, garantindo que seus projetos estejam atualizados com as inovações do mercado.