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Materiais Sustentáveis e certificações ambientais: o novo desafio da indústria moveleira brasileira

Materiais Sustentáveis e certificações ambientais: o novo desafio da indústria moveleira brasileira

Nos últimos anos, a sustentabilidade deixou de ser uma tendência abstrata e passou a ser um critério concreto para competitividade no setor moveleiro. Por um lado, a crescente pressão por parte dos mercados internacionais e, por outro, o aumento da conscientização ambiental dos consumidores têm impulsionado uma verdadeira corrida por certificações, uso de materiais sustentáveis e adequação aos padrões de produção ambientalmente corretos. Dessa forma, a escolha de materiais sustentáveis, que respeitem o meio ambiente e apresentem menor impacto na cadeia produtiva, passou a ser não apenas desejável, mas uma exigência em muitos segmentos do mercado global.

Além disso, a exigência por transparência na origem da madeira, o reaproveitamento de resíduos e a adoção de tecnologias limpas estão moldando um novo perfil industrial. Nesse contexto, a gestão ambiental passa a ser parte integrante do planejamento estratégico das empresas. Essa transformação vem acompanhada da necessidade de adotar boas práticas sustentáveis desde o design até a destinação final dos produtos. Assim, os materiais sustentáveis não são apenas elementos táticos, mas representam, sobretudo, um compromisso estratégico com o futuro da indústria e com o planeta.

Nesta matéria, você vai entender como o setor está se adaptando, quais as principais certificações ambientais exigidas, os desafios enfrentados pelas indústrias, e o que o futuro reserva para quem deseja competir em um mercado cada vez mais verde. E ainda mais:

  • Quais os principais materiais sustentáveis e certificações ambientais exigidos no setor moveleiro?
  • Sustentabilidade é tendência ou exigência no mercado?
  • Quais são os maiores desafios para empresas de pequeno e médio porte?
  • Como as certificações influenciam a competitividade atualmente?
  • O que esperar do futuro da sustentabilidade no setor?

Materiais sustentáveis: do manejo florestal à inovação

O uso de materiais sustentáveis tem ganhado espaço nas linhas de produção e, cada vez mais, se tornado uma estratégia relevante para valorizar o produto final. Segundo Marcos Boch, consultor técnico da ERABLE Consultoria, o certificado FSC (Forest Stewardship Council) é o mais reconhecido no Brasil. Esse selo garante que a madeira utilizada provém de manejo florestal ambientalmente adequado, socialmente justo e economicamente viável, o que permite, por consequência, que as empresas conquistem novos mercados e gerem percepção positiva junto ao consumidor.

Além disso, outros avanços surgem na forma de reaproveitamento de resíduos, como o pó de MDF ou as sobras de fita de bordo, que são combinados com materiais poliméricos para criar novos compostos aplicáveis à indústria. Essa abordagem, além de reduzir o desperdício, busca manter a qualidade e estimular uma economia circular, que tem ganhado espaço em escolas técnicas e centros de pesquisa. Dessa maneira, essa prática não só reduz custos com descarte, como também fortalece a imagem ambiental da empresa no mercado.

Certificações ambientais que transformam o mercado

As certificações são essenciais para empresas que desejam exportar ou se posicionar como sustentáveis em feiras internacionais. Giancarlo Lovón Canchumani, professor da UFPR, explica que a ISO 14001, o selo FSC e a CARB-EPA são exemplos de certificados exigidos por mercados como Estados Unidos, Canadá e União Europeia. Além disso, a rotulagem ecológica e a avaliação do ciclo de vida também se tornaram ferramentas valorizadas por grandes compradores e consumidores atentos.

“A certificação ISO 14001 garante que a empresa possui um sistema de gestão ambiental eficiente. Para exportar a partir de 2024, empresas precisam atender à CARB-EPA, obrigatória para laminados e forros”, afirma. Essas medidas ampliam a competitividade, principalmente em feiras e salões internacionais, como o Salão do Móvel de Milão, onde sustentabilidade, inovação e bem-estar formam o tripé essencial para os expositores.

 Giancarlo Lovón Canchumani
“Empresas que desejam exportar para os Estados Unidos ou Canadá já precisam atender à certificação CARB-EPA”, destaca Giancarlo Lovón Canchumani, professor da UFPR.

Materiais Sustentáveis: tendência ou exigência de mercado?

Na Europa, consumidores já pagam mais por produtos sustentáveis e exigem transparência sobre os impactos ambientais. No Brasil, o cenário ainda é diferente. “Aqui, ainda não há um valor agregado percebido pelo consumidor. O diferencial competitivo se torna mais claro para exportação e para parcerias comerciais com grandes redes”, explica Lovón Canchumani. A cultura de consumo ambientalmente consciente ainda está em desenvolvimento.

Mesmo assim, iniciativas como a SIMB (Sustentabilidade na Indústria Moveleira Brasileira), da Abimóvel, buscam incentivar a transição para um modelo produtivo mais limpo. Elas incluem subsídios, capacitação e plataformas de suporte às empresas que querem se adequar aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Essas ações têm contribuído para avanços significativos no setor.

O peso dos desafios para pequenas e médias empresas

As dificuldades mais citadas são os altos custos e a complexidade técnica dos processos de certificação e adaptação. Boch destaca que as micro e pequenas empresas enfrentam dificuldades para manter a operação, pagar mão de obra qualificada e impostos elevados. Isso compromete investimentos em sustentabilidade, como reaproveitamento de resíduos, aquisição de equipamentos e adesão a selos ambientais reconhecidos.

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“As micro e pequenas empresas têm dificuldades até para manter a operação funcionando, o que torna a sustentabilidade um desafio ainda maior”, afirma Marcos Boch, consultor técnico da ERABLE Consultoria.

Giancarlo complementa: “Trocar insumos e adotar tecnologias limpas exige capital e conhecimento. As certificações são auditadas e têm custos. A adesão esbarra em planejamento estratégico e visão de longo prazo”. Algumas universidades, como a UFPR, oferecem parcerias e consultoria gratuita para apoiar pequenas empresas na transição, o que pode ser um diferencial para viabilizar a sustentabilidade.

Como as certificações agregam valor e impulsionam a competitividade

Quando bem comunicada ao mercado, a certificação ambiental pode ser um diferencial valioso para ampliar a participação em novos mercados e fidelizar consumidores exigentes. Boch explica que consumidores cada vez mais valorizam a origem dos materiais e os impactos ambientais da produção. Isso influencia diretamente a decisão de compra, especialmente em segmentos de maior valor agregado.

“As certificações garantem que o produto passou por controle de qualidade e visa prevenir danos ao meio ambiente. A combinação entre inovação e sustentabilidade torna o produto mais atrativo e responsável”, afirma. Empresas que se destacam nessa frente ampliam a presença em mercados externos e conquistam maior reconhecimento entre consumidores, designers e parceiros comerciais.

O futuro da sustentabilidade no setor moveleiro

Com a COP30 prevista para 2025 na Amazônia, o Brasil estará ainda mais sob os holofotes das discussões sobre mudanças climáticas e do compromisso global com a redução de emissões. Diante desse cenário, Lovón Canchumani acredita que a produção com foco ambiental será não apenas um diferencial competitivo, mas, sobretudo, uma necessidade para qualquer setor que deseje se manter relevante nos próximos anos. “A temperatura do planeta aumentando 2ºC pode causar impactos globais. Cada setor tem responsabilidade dentro do Acordo de Paris”, reforça.

Nesse contexto, ferramentas como o inventário de emissão de gases, o eco-design e a economia circular serão absolutamente essenciais para orientar as práticas industriais. Além disso, a tendência é que o design de móveis leve em consideração todas as etapas — desde a escolha dos insumos até o reaproveitamento pós-consumo — gerando produtos mais eficientes, sustentáveis e duradouros. Embora desafiador, esse caminho representa também uma oportunidade concreta de protagonismo, diferenciação e inovação no mercado global.

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