A sustentabilidade e a economia circular vêm ganhando força como soluções para tornar o setor moveleiro mais eficiente e alinhado às demandas ambientais e de mercado. No entanto, a implementação dessas práticas enfrenta uma série de desafios. Desde questões regulatórias até o alto custo de tecnologias necessárias para transformar os processos produtivos. Nesta matéria, você poderá conferir além da opinião de especialistas:
- Atualmente, Quais são os desafios do setor moveleiro para implementar práticas de sustentabilidade e economia circular?
- Quais materiais sustentáveis estão em destaque e como contribuem para a longevidade dos produtos?
- Afinal, como a economia circular pode melhorar a eficiência e reduzir os resíduos na produção de móveis?
- De que maneira tecnologias como IoT e automação facilitam a adoção de práticas sustentáveis?

De acordo com Caroline de Paula Balbino, CEO do Grupo Legalizar e consultora ambiental, um dos maiores obstáculos enfrentados pelas empresas moveleiras é a burocracia ambiental. “A burocracia acaba afastando muitas empresas do compromisso com a sustentabilidade. As exigências e o compliance são difíceis de atender sem um entendimento adequado das metodologias e tecnologias disponíveis”, explica Caroline.
Além disso, o custo de implementação de práticas sustentáveis pode ser alto, especialmente para pequenas e médias empresas. Um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) realizado em 2022 mostrou que 64% das empresas no Brasil têm dificuldades para acessar incentivos fiscais ou linhas de crédito para financiar suas iniciativas de economia circular e sustentabilidade.
Sustentabilidade: Materiais em Destaque no Setor Moveleiro
O uso de materiais sustentáveis é uma das maneiras pelas quais o setor moveleiro pode reduzir seu impacto ambiental. De acordo com Juliana Ferrari Dal Piaz, consultora ambiental e coordenadora da Câmara Técnica de Meio Ambiente do Bento+20, destaca o uso de acabamentos em PET reciclado como uma inovação no setor. “O PET reciclado tem sido utilizado em móveis expostos à umidade, como os de banheiros, substituindo materiais menos sustentáveis como a melamina”, diz ela. Essa solução não só aumenta a durabilidade dos produtos, ou seja, também promove o reaproveitamento de resíduos plásticos, um dos grandes desafios ambientais.

Outro material que tem ganhado destaque é a madeira de reflorestamento. Embora ainda concorra com outras indústrias que utilizam a mesma matéria-prima. Por exemplo, a construção civil e a indústria naval, a madeira de reflorestamento é uma opção que traz um impacto ambiental menor. Em contra partida, Caroline adverte que “ainda há muito desperdício de madeira na cadeia de produção, o que compromete a sustentabilidade desse recurso.”
Economia Circular: Redução de Resíduos e Eficiência Produtiva
A implementação de modelos de economia circular pode transformar a maneira como as indústrias moveleiras operam. Estudos do Ellen MacArthur Foundation, uma organização dedicada à promoção da economia circular, mostram que essa abordagem pode reduzir em até 45% o desperdício de materiais em processos industriais. Ou seja, no setor moveleiro, isso significa uma melhor utilização de recursos como madeira, plástico e metal, além de promover a reciclagem e o reaproveitamento de resíduos.

“O design de produtos deve ser repensado para permitir que os resíduos gerados possam ser reutilizados, fechando o ciclo de vida dos produtos de forma eficiente”, afirma Carolina. Essa abordagem cria novas oportunidades de negócios, como a remanufatura de móveis, que pode atender a uma demanda crescente por produtos sustentáveis e personalizados. Além disso, a pesquisa da Deloitte, de 2021, revelou que 75% dos consumidores estão dispostos a pagar mais por produtos que tenham uma pegada ecológica. Isso reforça a importância de alinhar a produção com os valores de sustentabilidade.
A Tecnologia como Aliada na Transição para a Sustentabilidade
A tecnologia é um dos principais motores da transição para um setor moveleiro mais sustentável. Ferramentas como a Internet das Coisas (IoT) e a automação estão sendo cada vez mais usadas para monitorar o uso de recursos e otimizar os processos de produção. Segundo Juliana Ferrari, “a IoT permite o monitoramento remoto de operações, ajudando a identificar ineficiências no uso de água, energia e materiais.”
Além disso, a automação pode ser utilizada para reduzir o desperdício de matérias-primas. Máquinas inteligentes são capazes de otimizar o corte de materiais, minimizando as sobras e aumentando a eficiência do processo produtivo. Um relatório da McKinsey, publicado em 2020, apontou que a automação pode aumentar a produtividade em até 25% e reduzir os custos operacionais em 20%. Uma combinação que torna a adoção dessas tecnologias cada vez mais atraente para as indústrias moveleiras.
O Papel do Design na Sustentabilidade
O design de produtos também desempenha um papel crucial na implementação de práticas sustentáveis e de economia circular. Caroline de Paula Balbino defende que “o design precisa ser pensado para facilitar a desmontagem e o reaproveitamento de materiais. Isso permite que os produtos tenham uma vida útil mais longa e possam ser reciclados de forma eficiente.”
Além disso, o design sustentável contribui diretamente para a redução de resíduos. A criação de móveis modulares e adaptáveis, por exemplo, permite que os produtos sejam ajustados em vez de serem descartados. Essa abordagem não só contribui para a economia circular, mas também atende às expectativas dos consumidores, que estão cada vez mais atentos à durabilidade e sustentabilidade dos produtos que consomem.
A sustentabilidade e a economia circular no setor moveleiro são mais do que uma tendência — elas representam o futuro da indústria. Com desafios que vão desde a burocracia até o custo de implementação, as empresas precisam repensar seus processos produtivos e investir em tecnologia e design para garantir sua competitividade no mercado.
Ao adotar práticas sustentáveis e modelos de economia circular, o setor moveleiro não só reduz seu impacto ambiental. Isso também cria novas oportunidades de negócios, atendendo a uma demanda crescente por produtos ecológicos e duráveis. Para Juliana Ferrari, “esse é o caminho para um setor mais eficiente, competitivo e responsável, que contribui para a preservação dos recursos naturais e para a economia de uma forma sustentável.”