A preocupação com a sustentabilidade transformou-se em um dos pilares centrais da indústria moderna, e o setor moveleiro não está imune a essa mudança. A economia circular, que propõe um modelo de produção e consumo que reduz desperdícios e prioriza o reaproveitamento de materiais, está ganhando força entre empresas e consumidores preocupados com o impacto ambiental de suas escolhas.
Dentro dessa perspectiva, marcas de móveis estão repensando seus processos produtivos, desde o design até o descarte, para integrar práticas mais sustentáveis. O conceito vai além de reutilizar resíduos: é uma transformação completa nos ciclos de produção, que busca manter o valor dos recursos o máximo possível dentro da cadeia produtiva.
Nesta matéria, exploramos como a economia circular está sendo aplicada na indústria moveleira, os benefícios e desafios desse modelo, e como empresas e startups têm contribuído para sua implementação. Além disso, apresentamos exemplos de sucesso e analisamos o papel do consumidor final nesse cenário, mostrando como a circularidade pode moldar o futuro do setor. Ainda mais:
- O que é a economia circular e como ela está transformando o setor moveleiro afinal?
- Quais são os principais benefícios e desafios na adoção desse modelo?
- Quais exemplos práticos ilustram a economia circular em ação?
- Como empresas e startups estão acelerando essa transição atualmente?
- O consumidor está pronto para adotar práticas de economia circular?

Economia circular: conceito e impacto no setor moveleiro
A economia circular baseia-se em princípios como reduzir, reutilizar e reciclar, substituindo o modelo linear tradicional de produção e consumo. No setor moveleiro, isso significa um uso mais eficiente de matérias-primas, prolongamento do ciclo de vida dos produtos e minimização do desperdício. De acordo com a Fundação Ellen MacArthur, a economia circular tem potencial para gerar US$ 4,5 trilhões em benefícios econômicos globais até 2030, com impacto significativo em setores industriais.
O setor moveleiro, que historicamente depende de recursos como madeira e derivados, tem grande potencial de adaptação dentro desse modelo. De acordo com estudos do World Resources Institute (WRI), publicados em 2023, mostram que a indústria de móveis poderia reduzir em até 30% suas emissões de carbono adotando práticas de circularidade, como o reaproveitamento de resíduos e o redesenho de produtos.
Andrea Krause, consultora de Marketing e Inovação do segmento Indústria Moveleira e Revenda Madeireira da Eucatex, destaca que a mudança para a economia circular requer mais do que tecnologia: “É uma mudança de mentalidade. Não se trata apenas de como o móvel é produzido, mas de toda a sua jornada, desde os materiais escolhidos até o descarte.”
Benefícios e desafios da implementação
A implementação de um modelo circular oferece múltiplos benefícios para o setor moveleiro. O primeiro e mais evidente é a redução de custos. Reutilizar materiais, por exemplo, reduz a dependência de matérias-primas virgens, que têm custos cada vez mais altos. Além disso, a circularidade cria oportunidades para inovação em design, permitindo que as empresas ofereçam produtos mais duráveis e adaptáveis, algo muito valorizado por consumidores modernos.
Por outro lado, a transição não é simples. Uma das principais barreiras é a falta de infraestrutura adequada para reciclagem e reaproveitamento de materiais em larga escala. Muitos países, incluindo o Brasil, ainda enfrentam desafios logísticos para gerenciar resíduos de forma eficiente. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública (ABRELPE), apenas 3% dos resíduos sólidos são reciclados no país, o que limita a aplicação da economia circular em setores como o moveleiro.
Outra dificuldade é a conscientização do consumidor. Apesar do aumento do interesse por práticas sustentáveis, uma parte significativa dos compradores ainda prioriza preço e conveniência sobre sustentabilidade. “Para mudar essa percepção, é necessário educar o consumidor e mostrar os benefícios reais de produtos sustentáveis”, de acordo com Krause.
Exemplos de sucesso: o case da Eucatex
No Brasil, um dos exemplos mais relevantes de economia circular no setor moveleiro é o programa de reciclagem de madeira da Eucatex. Desde 2004, a empresa reaproveita resíduos de madeira de diversas fontes, como podas de árvores e restos de construção civil, transformando-os em biomassa para abastecimento energético. Em 2024, a iniciativa completou 20 anos, consolidando-se como referência em práticas sustentáveis.
Com esse programa, a Eucatex consegue reaproveitar mais de 100 mil toneladas de resíduos de madeira por ano, economizando cerca de 15 milhões de litros de água e evitando o corte de um milhão de árvores. Além disso, a iniciativa tem impacto direto na redução de emissões, diminuindo o uso de combustíveis fósseis nas operações fabris.
O programa é mais do que um compromisso ambiental; na verdade, é uma demonstração clara de que a sustentabilidade pode ser integrada ao negócio de forma viável e lucrativa”, comenta Andrea Krause. Além disso, a Eucatex também investe na transparência com seus parceiros, enviando relatórios mensais que detalham o volume de resíduos reaproveitados, o que é fundamental para inspirar confiança e, ao mesmo tempo, fortalecer sua cadeia de valor.

O papel das startups e das parcerias estratégicas
Startups têm desempenhado um papel crucial na transição para a economia circular no setor moveleiro. Por meio de soluções inovadoras, essas empresas ajudam a repensar materiais, processos e até mesmo modelos de negócio. Por exemplo, a startup sueca Renewcell desenvolveu uma tecnologia avançada que transforma resíduos têxteis em fibras de celulose, as quais podem ser reutilizadas na fabricação de móveis e outros produtos.
No Brasil, iniciativas como o Sebrae e a ABIMÓVEL (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário) têm incentivado parcerias entre indústrias tradicionais e startups. “As startups trazem uma visão nova e flexível, ajudando as empresas estabelecidas a superar barreiras técnicas e culturais”, explica Krause. Essas parcerias também ampliam o alcance de práticas circulares, engajando diferentes elos da cadeia produtiva.
O consumidor final e a economia circular
A aceitação do consumidor é um fator essencial para o sucesso da economia circular. Uma pesquisa realizada pela Nielsen em 2023 revelou que 73% dos consumidores globais preferem comprar de empresas que adotam práticas sustentáveis. No entanto, para que o consumidor final realmente abrace a economia circular, é necessário oferecer produtos que combinem sustentabilidade com design atrativo e preço competitivo.
Empresas como Ikea já deram passos significativos nesse sentido. Além de oferecer linhas de móveis feitos com materiais reciclados, a varejista sueca introduziu programas de aluguel e recompra, permitindo que os consumidores retornem móveis usados para reaproveitamento. “Essa é uma maneira inteligente de envolver o consumidor no ciclo de circularidade, tornando-o parte ativa do processo”, de acordo com Krause.
Economia Circular: o futuro do setor moveleiro
A economia circular não é apenas uma tendência passageira; é um modelo indispensável para um futuro mais sustentável. O setor moveleiro, com sua dependência de recursos naturais, está em posição privilegiada para liderar essa transformação. Embora os desafios sejam consideráveis, os benefícios de longo prazo compensam o esforço. Com exemplos como a Eucatex e a crescente integração de startups, a economia circular oferece um caminho promissor para empresas que desejam se destacar em um mercado cada vez mais consciente. Ou seja, o futuro será definido por aqueles que forem capazes de inovar e colaborar, adaptando-se às demandas de uma nova era de sustentabilidade.