Entregar produtos de mobiliário com design atraente e um bom custo-benefício para o consumidor final depende de investimento em tecnologias de produção. A Plataforma Setor Moveleiro traz, nesta reportagem, informações do consultor Cláudio Perin, especialista em estratégia para a indústria moveleira.
Um dos caminhos é a indústria 4.0, assunto já tratado aqui na Plataforma. De acordo com o consultor, é possível implementar o modelo sem complicação. “Eu pratico ações e então coleto dados. Depois de tratados, eles viram informações, e com essas informações, eu idealizo estratégias. E elas, uma vez implementadas, devolvem indicadores”, explica Perin.
Se essa lógica for seguida, avalia, a empresa vai aprender a precificar os produtos de maneira mais técnica. Por consequência, vai surgir o desejo de melhorar os custos para se tornar mais competitiva. “A partir daí, fica inevitável entender que precisa de tecnologia, seja software, hardware, ou ainda, colaboradores mais especializados tecnicamente”, acredita.
Esse é um caminho obrigatório para quem quer se manter no mercado, avisa o consultor. “Então comece com um custo de produção bem feito e aplique o kaizen [melhoria contínua e gradual], e, então, os passos seguintes começam a se revelar. Não tenha medo da mudança, faça dela uma amiga”, sugere.
Mão de obra é vital para a adoção de tecnologias de produção
Na percepção do consultor, existe a vontade de investir em tecnologias de produção por parte dos empresários do setor moveleiro, mas o processo esbarra na mão de obra qualificada.
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“Se o homem de confiança do empresário, que comanda a produção, não acredita na efetividade da mudança, a empresa tende a ser mais lenta em sua jornada tecnológica. Então, a decisão não se resume exclusivamente em se ter condições financeiras para o investimento”, exemplifica.
A grande questão, destaca, é o “payback”: em quanto tempo se recupera o investimento em tecnologias de produção? “A gente não pode ter preguiça de fazer contas. Ainda encontro alguns clientes fabricando móveis sem esses recursos, sempre no fio da navalha”, conta.
Para entender as vantagens, reforça, é preciso focar no custo fixo da empresa. Partindo-se do princípio de que o custo fixo precisa ser diluído pelas unidades fabricadas e montadas, fica claro que é preciso fabricar e montar mais para se diluir este custo fixo.
“Então, tanto faz se falamos de custo ou eficiência, ser mais eficiente na fabricação e montagem significa reduzir a parcela de custo fixo embutido em cada unidade produzida e/ou montada. A empresa fica mais leve, e isto se reverte em uma vantagem de lucratividade e perenidade”, conclui Perin.
Recursos disponíveis no mercado
O Brasil começou a virar a chave da industrialização em 1994, lembra Perin, com a questão da URV, que tornava interessante remodelar o parque fabril. “Nossas políticas de câmbio possuem historicamente altos e baixos, então o melhor momento sempre vai ser aquele em que a venda é boa e o Real está simultaneamente valorizado, para não disperdiçar a janela de oportunidade”, aconselha.
Hoje, as empresas têm à disposição para facilitação de produção o binômio CAD/CAM representado por equipamentos CNC capazes de processar e otimizar projetos através de desenhos 3D, transformando tais informações em programas otimizados de fabricação, os quais não precisam ser digitados no painel da máquina e sim gerados diretamente das informações do desenho.
“Complementarmente temos os softwares otimizadores de corte, os sistemas que oferecem um PCP (Módulo de Planejamento da Produção), gerenciadores de estoque de chapas e a lista vai longe”, completa o consultor.
No caso da montagem, pondera Perin, ainda há muitos erros estratégicos no mercado, em função da preocupação exclusiva com custos. “Existem diversos acessórios e ferragens capazes de acelerar a montagem, mas comparado ao custo do tradicional parafuso, deixamos de enxergar a questão do tempo de montagem e qualidade técnica do produto”, avalia.
Isso pode limitar, segundo ele, a performance da empresa ou ser argumento de venda para o cliente que entende essa questão. “Infelizmente quando a montagem ocorre por conta do cliente final, empresas ignoram a questão”, completa.
Na prática, tecnologia agrega valor e diferencial aos produtos
No mercado de móveis seriados, a tecnologia é aliada dos fabricantes para diferenciar os produtos e torná-los mais atrativos ao consumidor. Para Danilo Durante, gerente de desenvolvimento de produtos da Möbler, a tecnologia de produção também pode aumentar a velocidade de entrega.
“Hoje está muito em alta, por exemplo, o ripado. Como eu faço para diferenciar meu produto da concorrência que também quer vender essa tendência para o consumidor? Aí é preciso investir em tecnologia, colocar um bom maquinário. Quando você faz isso, pode ganhar em preço, qualidade, velocidade de venda, entrega e assim por diante”, enumera.