Análise estratégica para o setor moveleiro B2B no Brasil pelo 33º Congresso Movergs: conjuntura de alto risco, colapso exportador e crédito direcionado

Análise estratégica para o setor moveleiro B2B no Brasil pelo 33º Congresso Movergs: conjuntura de alto risco, colapso exportador e crédito direcionado

O 33º Congresso Movergs, que aconteceu no dia 14 de outubro de 2025, mostrou que o setor moveleiro precisa encarar de frente um cenário cheio de desafios, que vão desde exportações em queda até juros altos. Mesmo assim, o evento também deixou claro que há espaço para virar o jogo: diversificar mercados, apostar na eficiência e repensar modelos de negócio são passos essenciais para quem quer atravessar 2026 com vantagem. Neste artigo, você confere as ideias centrais que marcaram o encontro em Bento Gonçalves. Boa leitura!

O 33º Congresso Movergs e o contexto da transformação

O 33º Congresso Congresso Movergs, realizado em Bento Gonçalves no dia 14 de outubro de 2025, se consolidou como um fórum crucial de conteúdo e estratégia, provocando reflexões necessárias para “mover o futuro dos negócios” em um contexto de rápidas transformações globais e setoriais. 

O evento destacou que, dos movimentos geopolíticos e econômicos ao posicionamento de marca, tudo está fundamentalmente conectado pelas relações humanas.

Em sua mensagem de boas-vindas, o presidente da Movergs (Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul), Euclides Longhi, celebrou a presença dos mais de 360 participantes e ressaltou a importância do conhecimento estratégico.

“Parabéns por saírem das suas empresas para estarem no Congresso. Aqui estão mentes que movem o futuro. Aqui estamos nós, que buscamos informação para fazer a diferença.”

O circuito de palestras ampliou o olhar estratégico do público. O cientista político HOC alertou os empresários sobre a necessidade de considerar a geopolítica nas parcerias comerciais, frisando que “a economia não está separada da política e da geopolítica”. 

Márcio Callage, CMO da Vulcabras, apresentou o case Olympikus, focando no posicionamento de marca e no comportamento do consumidor, defendendo que “não existe business to business e business to consumer. O trabalho é baseado na ideia de que tudo é humano”. 

Encerrando a programação, o especialista em mercado de luxo e varejo Carlos Ferreirinha resumiu o ritmo acelerado das dinâmicas atuais, notando que “as dinâmicas e transformações que ocorreram nos últimos 25 anos são maiores do que todas as mudanças do século. Precisamos entender outras perspectivas e possibilidades. Informação empodera”.

O destaque do evento, no entanto, foi a análise econômica apresentada por Giovani Baggio, economista-chefe da Fiergs (Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul)

Baggio detalhou o panorama econômico e os indicadores do mercado, estabelecendo o tom de cautela estratégica para o setor moveleiro B2B ao destacar que “tanto o índice de incerteza política quanto o índice de incerteza comercial nunca estiveram em nível tão elevado” e que as empresas devem aceitar essa “nova era do mercado mundial” para “saber como melhor navegar”.

A análise a seguir se aprofunda nos dados e projeções apresentados por Baggio, que apontam um cenário de alto custo de capital e colapso exportador, exigindo uma reengenharia urgente das estratégias de negócios no Rio Grande do Sul.

Análise estratégica para o setor moveleiro B2B no Brasil pelo 33º Congresso Movergs: conjuntura de alto risco, colapso exportador e crédito direcionado
Em sua mensagem de boas-vindas, o presidente da Movergs, Euclides Longhi, celebrou a
presença dos mais de 360 participantes e ressaltou a importância do conhecimento estratégico

Síntese executiva: o paradoxo do setor moveleiro B2B em 2025/2026

O setor moveleiro B2B do Rio Grande do Sul opera em outubro de 2025 sob um cenário de extremo paradoxo econômico, conforme delineado pela análise da UEE (Unidade de Estudos Econômicos) da Fiergs no 33º Congresso Movergs.

Enquanto o mercado interno demonstra resiliência, sustentado por políticas de crédito direcionado e um mercado de trabalho aquecido no Rio Grande do Sul, a rentabilidade e a confiança estratégica das indústrias estão ameaçadas por três vetores de risco críticos: o alto custo de capital imposto pela política monetária nacional, o colapso quase total no mercado de exportação para os Estados Unidos e uma crise de confiança estrutural regional, intensificada pelos riscos climáticos recorrentes.

A tradução destes vetores para o planejamento estratégico B2B exige foco na otimização de custos e na diversificação imediata. A Selic projetada a 15% estrangula o investimento em capital produtivo, chamado de Capex, e o capital de giro, o Opex. 

Simultaneamente, a queda de 60,3% nas receitas de móveis exportados para os Estados Unidos em setembro de 2025 exige uma reengenharia urgente das operações de vendas externas. 

Internamente, a escassez de mão de obra qualificada, atingindo o maior índice histórico, estabelece um limite estrutural para qualquer expansão produtiva, independentemente da demanda de mercado.

Análise estratégica para o setor moveleiro B2B no Brasil: conjuntura de alto risco, colapso exportador e crédito direcionado
O destaque do evento foi a análise econômica
apresentada por Giovani Baggio, economista-chefe da Fiergs

A pressão fiscal e monetária no Brasil: o custo do capital para o B2B

O imbróglio fiscal: risco estrutural e dívida crescente

O problema fiscal brasileiro é estrutural, caracterizado pela rigidez orçamentária. A proporção das despesas obrigatórias atingiu cerca de 89% do total das despesas primárias. 

E esse engessamento é amplificado pela indexação: cerca de 53% do orçamento está atrelado ao salário mínimo, onde cada R$ 1 de aumento gera um incremento de aproximadamente R$ 391,8 milhões nas despesas do Governo Central.

Para o setor moveleiro B2B, essa rigidez tem duas consequências. Primeiramente, minimamente sustenta o poder de compra das famílias de baixa renda, o que se traduz em demanda contínua por móveis populares e projetos sociais, via MCMV (Minha Casa, Minha Vida). 

Em segundo lugar, é o principal fator que impulsiona a DBGG (Dívida Bruta do Governo Geral), que atingiu 77,5% do PIB (Produto Interno Bruto) em fevereiro de 2025, com projeção de chegar a 80,9% ao final do ano. 

A incapacidade de controlar o gasto primário leva o resultado nominal do setor público consolidado ao maior déficit desde o pico da pandemia.

O alto custo do capital: Selic a 15% e o crédito PJ

A resposta do banco central ao desajuste fiscal e à inflação, com o IPCA projetado em 5%, é a manutenção de uma taxa de juros elevada. A meta da taxa Selic é projetada para 15% ao final de 2025, um nível que impede qualquer expansão robusta via crédito livre.

Essa alta taxa de juros cria um “efeito tesoura” severo no ambiente B2B. Por um lado, o custo de capital de giro para pessoas jurídicas se torna proibitivo, elevando os custos operacionais e dificultando a gestão de estoques e do ciclo de recebimento de pagamentos. 

Por outro lado, limita o investimento em modernização e expansão de capacidade, o que é particularmente crítico para o setor moveleiro gaúcho, que já enfrenta gargalos de mão de obra. 

A análise de concessões de crédito livre para PJ indica que esses empréstimos se encontram em patamares baixos em termos reais, restringindo a capacidade do B2B de reagir à demanda crescente de forma ágil.

Riscos regulatórios e tributários

A expansão agressiva de gastos, como a manutenção do Auxílio Brasil, o relançamento do programa habitacional MCMV, e reajuste real do salário mínimo, está sendo compensada por aumento de receitas. 

Essa compensação fiscal inclui medidas como o retorno do PIS/Cofins sobre combustíveis, a tributação de fundos exclusivos e offshores, e, notavelmente, o aumento para 25% no imposto de importação de aço e ferro.

Embora essas medidas visem fechar o rombo fiscal, geram instabilidade regulatória e aumentam os custos de insumos. 

O aumento da taxação sobre aço e ferro é ponto de atenção direta para a indústria moveleira B2B, pois pode elevar os custos de ferragens, componentes e estruturas metálicas, insumos essenciais na fabricação de móveis de contrato e incorporação. 

A necessidade de antecipar riscos fiscais e jurídicos da reforma tributária em curso adiciona uma camada de complexidade à gestão de custos do B2B, pressionado também pela alta taxa de câmbio no ano anterior e pela Selic elevada.

Análise estratégica para o setor moveleiro B2B no Brasil pelo 33º Congresso Movergs: conjuntura de alto risco, colapso exportador e crédito direcionado
O setor moveleiro B2B do Rio Grande do Sul opera em outubro de 2025 sob um cenário de extremo
paradoxo econômico, conforme delineado pela análise da UEE da Fiergs no 33º Congresso Movergs

A ruptura do mercado exportador: o “tarifaço” americano e a reengenharia de vendas

Para o setor moveleiro do Rio Grande do Sul, a crise nas exportações para os Estados Unidos em 2025 não é apenas uma desaceleração, mas sim um colapso quantificado, exigindo reorientação estratégica imediata no segmento B2B.

Colapso quantificado: queda de 60,3% nas exportações moveleiras

As exportações representam componente significativo da receita líquida das indústrias moveleiras gaúchas, com os Estados Unidos sendo um dos principais destinos em 2024. 

Em setembro de 2025, houve queda de 60,3% nas receitas de exportação de móveis para o país, uma variação de – 57,2% no quantum por dia útil, e  -15,7% no preço médio por dia útil. 

Essa conjunção de queda de volume e preço sugere que importadores americanos suspenderam pedidos em grande escala, e houve forte pressão de margens para exportadores B2B do Rio Grande do Sul, gerando erosão nas margens e aumento de custos para compensar tarifas.

Perda de competitividade e câmbio adverso

O “tarifaço” (a elevação tarifária aplicada pelos Estados Unidos) inverteu o cenário competitivo global. A China, principal concorrente, viu suas tarifas reduzidas em negociações anteriores com os Estados Unidos, recuperando vantagem de custo e se tornando competidora mais agressiva no mercado americano, tornando os produtos brasileiros menos viáveis para exportação B2B.

Além disso, a taxa de câmbio favoreceu um real mais forte ao longo de 2025 (projeção de R$ 5,54 ao final do ano, contra R$ 6,19 no pico de 2024), encarecendo exportações e penalizando margens no setor exportador.

Análise estratégica para o setor moveleiro B2B no Brasil: conjuntura de alto risco, colapso exportador e crédito direcionado
Para o setor moveleiro do Rio Grande do Sul, a crise nas exportações para os Estados
Unidos em 2025 não é apenas uma desaceleração, mas sim um colapso quantificado

O cenário gaúcho: crises estruturais e desaceleração industrial

O estado do Rio Grande do Sul enfrenta combinação inédita de crises climáticas, externas (tarifas) e estruturais (confiança e mão de obra), com projeção de crescimento de PIB de apenas 1,8% em 2025, refletindo adversidades regionais que freiam o ritmo industrial local.

Crises climáticas e desaceleração regional

Nos últimos cinco anos (2020-2024), o Rio Grande do Sul foi atingido por quatro estiagens e duas grandes enchentes, contribuindo para interrupções nas cadeias de suprimentos, como madeira e logística.

Projeções de novo evento climático como La Niña em 2026 elevam risco operacional para cadeias de produção moveleira. A interrupção logística e de insumos compromete a confiabilidade de entrega para projetos de mobiliário sob contrato ou para incorporações em larga escala.

Os indicadores industriais confirmam a desaceleração: o IDI-RS (Índice de Desempenho Industrial do Rio Grande do Sul) acumulado até agosto de 2025 mostra crescimento pífio, faturamento negativo e redução de horas trabalhadas. 

No segmento de fabricação de móveis, as vendas acumuladas no ano apresentaram recuo (- 6,7% até agosto de 2025), apesar de o emprego formal ainda ser positivo (+ 1,5%).

Crise de confiança estrutural

O ICEI-RS (Índice de Confiança do Empresário Industrial do Rio Grande do Sul) caiu para 42,7 pontos em setembro de 2025, nível mais baixo desde junho de 2020, inclusive abaixo dos patamares observados durante enchentes de maio de 2024 (44,4 pontos). 

Isso indica que decisores B2B percebem risco político, regulatório e comercial mais persistente do que eventos naturais, afetando decisões de investimento e planejamento estratégico.

Gargalo de mão de obra qualificada

A escassez de mão de obra qualificada é a principal limitação operacional para o crescimento B2B no Rio Grande do Sul, com alta incidência nas indústrias moveleiras, incluindo marcenarias e produção em escala. Esse gargalo limita a ampliação de capacidade produtiva mesmo frente à demanda.

Análise estratégica para o setor moveleiro B2B no Brasil pelo 33º Congresso Movergs: conjuntura de alto risco, colapso exportador e crédito direcionado
O estado do Rio Grande do Sul enfrenta combinação inédita de crises climáticas, externas (tarifas) e
estruturais (confiança e mão de obra), com projeção de crescimento de PIB de apenas 1,8% em 2025

Alavancas de demanda B2B: habitação, construção e o consumidor resiliente

Em contraste com riscos, o mercado interno, especialmente no segmento de habitação e construção, surge como alavanca importante para o setor moveleiro B2B em 2025/2026.

Desempenho da construção civil

A construção civil permanece demandando mobiliário para incorporações, projetos de acabamento e móveis planejados residenciais. Mesmo com ritmo abaixo do nacional, esse setor alimenta projetos de alto volume e contratos B2B para móveis planejados para cozinhas, dormitórios e áreas comuns.

Programas habitacionais e reforma

A expansão de programas habitacionais como o MCMV e a criação da nova faixa 4 para famílias de média renda, até R$ 500 mil, abre nicho de mercado de móveis de maior valor agregado com financiamento subsidiado. 

Além disso, programas de reforma com crédito entre R$ 5 mil e R$ 30 mil reforçam demanda para o segmento de reposição e pequenos projetos no mercado B2B. 

O teto do sistema habitacional regulado foi elevado para até R$ 2,25 milhões, ampliando públicos qualificados para financiamento subsidiado e gerando demanda qualificada no setor moveleiro de contrato.

Consumidor de média renda e limites da demanda orgânica

Apesar da melhoria da renda disponível das famílias e desemprego historicamente baixo (por exemplo, ~ 4,3%), o endividamento elevado (~ 48,6% da renda disponível) e a Selic a 15% limitam a capacidade de consumo de móveis de ticket elevado no crédito livre. 

Portanto, a demanda continuará fortemente dependente dos segmentos subsidiados e reformas.

Análise estratégica para o setor moveleiro B2B no Brasil: conjuntura de alto risco, colapso exportador e crédito direcionado
Em contraste com riscos, o mercado interno, especialmente no segmento de habitação e
construção, surge como alavanca importante para o setor moveleiro B2B em 2025/2026

Roteiro estratégico para decisores B2B: estratégias para 2026

Diante do cenário de alto risco externo e crédito caro, mas com demanda interna ancorada em programas habitacionais, o planejamento estratégico B2B para 2026 deve focar em defesa de margem, otimização operacional e diversificação agressiva.

Reorientação de mercado e defesa de margem

  • Diversificação agressiva de mercados internacionais: dada a inviabilidade temporária do mercado americano, focar na América Latina, na Europa (especialmente mercados com apelo de design e certificações) e no Oriente Médio (grandes projetos de contrato);
  • Otimização para o mercado subsidiado interno: ajuste da produção para atender às exigências da faixa 4 do MCMV, com qualidade e design elevados, mantendo eficiência de produção para volume;
  • Sustentabilidade como diferencial competitivo: adotar práticas ESG, certificações de origem da madeira e rastreabilidade como vantagem competitiva sobre concorrentes internacionais e nas cadeias de projetos de móveis contratados.

Produtividade e gestão de capital

  • Investimento seletivo em automação e tecnologia para mitigar o gargalo de mão de obra;
  • Acesso a crédito direcionado e alternativas de financiamento subsidiado, evitando crédito livre oneroso;
  • Gestão rigorosa de fluxo de caixa, negociação de contratos de longo prazo, controle de insumos como aço e ferro, para proteger margens.

Estratégia de RH (Recursos Humanos)

  • Programas de capacitação interna e parcerias com entidades do Sistema S, como Senai e Senac, para mitigar carência de mão de obra qualificada;
  • Políticas de retenção de talentos por meio de benefícios competitivos e investimentos em qualificação;
  • Uso contínuo de inteligência estratégica e dados setoriais por meio do observatório da Fiergs para fundamentar decisões de Capex, diversificação e mitigação de riscos.
Análise estratégica para o setor moveleiro B2B no Brasil pelo 33º Congresso Movergs: conjuntura de alto risco, colapso exportador e crédito direcionado
Programas de capacitação interna e parcerias com entidades do Sistema S, como Senai e
Senac, podem ser implementados como forma de mitigar a carência de mão de obra qualificada

Conclusão

Em 2025/2026, o setor moveleiro B2B  precisa operar em “modo precisão”: defender margens em um ambiente de crédito caro, redesenhar a carteira de exportações diante do tarifaço nos Estados Unidos e atacar o mercado interno alavancado por crédito direcionado (habitação e reformas). 

A combinação de automação produtiva, acesso a linhas subsidiadas, gestão fina de caixa e certificações/ESG como ativo competitivo forma o núcleo da estratégia para 2026. A diversificação geográfica (América Latina, nichos na Europa e projetos no Oriente Médio) e o fortalecimento de talentos via capacitação e retenção completam o quadro. 

Quem agir agora, com dados, eficiência operacional e proposta de valor clara, atravessa o ciclo com vantagem e captura o próximo movimento de crescimento.

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