Durante os últimos anos, especialmente com a mudança drástica na forma como vivemos e trabalhamos, a relação entre pessoas e ambientes internos passou a ser repensada. Diante desse novo cenário, o design biofílico vem ganhando espaço no setor moveleiro como uma alternativa estética, funcional e emocional para a criação de espaços mais saudáveis e conectados à natureza. Esse conceito, que visa reconectar os ambientes construídos aos elementos naturais, vai além da estética, pois extrapola a decoração e se traduz em uma filosofia de bem-estar. Ou seja, não se trata apenas de trazer plantas para dentro de casa, mas de incorporar materiais, texturas, cores e experiências que evoquem a natureza de forma sensorial. Consequentemente, no setor moveleiro, isso tem implicações diretas em design, tecnologia, sustentabilidade e inovação.
Além de agregar valor aos produtos, o design biofílico reflete um novo olhar sobre o papel dos móveis no cotidiano das pessoas. Mais do que nunca, eles deixam de ser apenas objetos utilitários para se tornarem parte ativa de um ambiente que promove saúde, produtividade e equilíbrio. Essa abordagem também se alinha às demandas contemporâneas por soluções mais conscientes e ambientalmente responsáveis. Neste contexto, exploramos nesta matéria como o design biofílico está sendo aplicado no setor de móveis, quais as tendências mais fortes, seus benefícios comprovados, os principais desafios industriais e como as empresas estão adaptando seus processos para atender a essa demanda. Ainda mais:
- Afinal, como o design biofílico está sendo incorporado ao setor moveleiro e quais são as principais tendências atuais?
- Quais são os benefícios do design biofílico para os consumidores e como ele impacta a experiência dentro dos ambientes atualmente?
- Que tipos de materiais e acabamentos estão sendo mais utilizados para trazer elementos da natureza para os móveis?
- Quais desafios as empresas enfrentam ao aplicar conceitos de biofilia no design de móveis em larga escala?
- Como a tecnologia e a sustentabilidade se integram ao design biofílico no setor moveleiro?
A força do design biofílico no mobiliário contemporâneo
Durante a pandemia, a necessidade de reconexão com a natureza ficou evidente — e, mais do que isso, tornou-se urgente. Nesse contexto, o design biofílico despontou como uma resposta eficaz. O resultado é trazer para dentro dos lares e escritórios elementos que evocam a tranquilidade e a harmonia natural. No setor moveleiro, essa proposta encontrou solo fértil. desde então, vem se traduzindo em escolhas de materiais sustentáveis, estética orgânica e experiências sensoriais mais envolventes.
Andrea Krause, consultora de Marketing e Inovação da Eucatex, reforça essa tendência: “Revestimentos, acabamentos e painéis de MDF e MDP têm papel central nesse movimento. As texturas realistas e os tons inspirados na natureza, como o verde e os terrosos, estão cada vez mais presentes nas linhas de produto”, afirma. Essa busca por autenticidade nas superfícies e sensações não apenas agrada aos olhos, mas também estabelece um vínculo emocional com o ambiente.
Por que o design biofílico é bom para as pessoas?
Não é apenas uma questão estética. O design biofílico impacta diretamente no bem-estar das pessoas. Diversas pesquisas internacionais comprovam os efeitos positivos da natureza no corpo humano. Um estudo publicado em 2020 pela Universidade de Oregon apontou que, em ambientes com elementos naturais, é possível reduzir os níveis de cortisol, melhorar a concentração e até diminuir a pressão arterial.
Diante desses dados, Andrea comenta: “Esses efeitos tornam os ambientes mais acolhedores e favorecem a produtividade. Tanto em casas quanto em escritórios, a sensação de conforto promovida pelo design biofílico pode ser sentida no dia a dia. Ele ajuda a transformar os espaços em refúgios”. Além disso, estudos do Human Spaces Report de 2015 também mostram que trabalhadores em ambientes com elementos naturais relatam um aumento de 15% no bem-estar e 6% na produtividade.
Quais materiais trazem a natureza para dentro dos móveis?
O avanço da tecnologia permitiu ao setor moveleiro desenvolver produtos com alto nível de realismo e sofisticação. Entre os principais recursos disponíveis, destaca-se a reprodução fiel da madeira natural, que aparece com força nos painéis de MDF e MDP de nova geração. Além da estética, esses produtos oferecem uma experiência tátil diferenciada, que convida ao toque e estimula os sentidos, tornando o uso dos móveis ainda mais envolvente.
Nesse contexto, Andrea destaca um exemplo do portfólio da Eucatex: o acabamento Poro Supermatt. “Ele combina textura profunda, aparência natural e efeito ultra mate, que está em alta no mercado. É um produto que alia funcionalidade, beleza e inovação — e ainda evita marcas de digitais, algo prático para o dia a dia”, afirma. Além disso, o produto utiliza madeira de florestas cultivadas e certificadas, mostrando que é possível unir sustentabilidade e alto padrão. Essas soluções, por sua vez, também oferecem longevidade, o que é essencial em tempos de consumo consciente e escolhas mais duradouras.
Quais são os desafios da biofilia na indústria moveleira?
Apesar dos avanços, implementar o design biofílico em larga escala ainda representa um desafio técnico e estratégico para a indústria moveleira. “Não basta apenas escolher materiais ecológicos. É preciso integrar tecnologias e processos que tornem viável a produção de peças sustentáveis, personalizáveis e que sigam os princípios da bioarquitetura”, afirma Andrea Krause.
Além disso, ela ressalta que o mercado valoriza cada vez mais a customização e a personalização, o que, por sua vez, pode entrar em choque com os modelos industriais padronizados. “Conciliar escala, diversidade e responsabilidade ambiental é o grande desafio”, explica. Nesse cenário, a bioarquitetura também propõe soluções para ambientes mais confortáveis termicamente e com menor consumo energético — metas que, por consequência, exigem um alinhamento preciso entre design, engenharia e gestão. Ainda assim, a capacitação de profissionais para integrar esses conceitos permanece como uma lacuna em muitos polos moveleiros do Brasil.

Como a tecnologia e a sustentabilidade se integram ao design biofílico
Empresas que lideram esse movimento têm investido, de forma consistente, em tecnologias limpas e processos sustentáveis. A Eucatex, por exemplo, opera com uma das maiores linhas de reciclagem de madeira da América Latina desde 2004 e, em 2023, assinou um contrato para suprir 50% da sua demanda energética com energia solar. Dessa forma, são ações concretas que sustentam a evolução do design biofílico como uma tendência sólida e cada vez mais relevante para o setor.
Com consumidores cada vez mais conscientes, a aliança entre inovação e responsabilidade ambiental se torna, portanto, um importante diferencial competitivo. Materiais de origem certificada, como o eucalipto cultivado, tecnologias de acabamento e soluções industriais menos poluentes consolidam o design biofílico não apenas como uma estética, mas também como um novo padrão de qualidade de vida. Ao incorporar inovação e compromisso ambiental, o setor moveleiro brasileiro mostra, assim, que é possível crescer respeitando os limites do planeta — e ainda entregar produtos desejáveis, duráveis e emocionalmente conectados ao usuário.